O black metal foi salvo. Não, não foi salvo pelo sufixo pós-, mas sim pela palavra do diabo. Calma, não pelo diabo cliché, de chifres e aroma a enxofre, mas por aquele diabo do blues. O mesmo que levava a alma de quem se perdia nos Deltas só queria tocar guitarra, o mesmo que tirou a visão a quem queria ver a guitarra como nunca ninguém viu.
Blues-black-metal é um rótulo que soa tão terrível como o próprio filho do Demo, mas é exactamente isso que vamos encontrar. Contrariamente ao black-metal norueguês e ao norte americano (tanto o trv-kvlt, como o indie), no universo de Glorior Belli há espaço para solos de guitarra conviverem com um imaginário aterrador. Há, igualmente, vontade que um travo sulista apareça de mãos dadas com o individualismo misógino tão típico do género. E, acima de tudo, há imaginação e vontade de arriscar. Basta o tema de abertura Dark Gnosis para o constatar.
Ninguém pode afirmar, principalmente depois deste, que o black-metal é um género estagnado. Aliás, o black-metal não só coabita na perfeição com algo que seria diametralmente oposto (o blues), como pode até coadunar-se com uma produção pensada e executada idealmente para esse tal género. O resultado final é quase palpável, e soa a um deserto roufenho no meio do qual qualquer um de nós se entregaria ao diabo.