Os fantasmas suecos vieram pela primeira vez a Portugal e fizeram o que têm feito na Europa e nos Estados Unidos, onde rumaram este verão em digressão: encher salas e alastrar o seu culto. Trouxeram o seu mais recente Papa Emeritus III, apresentado ao mundo este verão – ou será que é o mesmo que sempre tiveram? Não existem certezas sobre a identidade da banda, apresentada ao mundo com cinco instrumentalistas, que são «fantasmas sem nome», e a personagem principal – Papa Emeritus, que, alegadamente, terá assumido já três personalidades – diz-se que cada uma delas com uma idade inferior à anterior.

Entretanto, os Dead Soul também passaram pelo Paradise Garage, não despertando corações, indeléveis com o seu industrial da Toys’r’Us. O merch vende-se caro, como costume, uma áascara levezinha não diferente de uma da loja dos chineses – aliás, possivelmente mesmo aquela foi fabricada na China – custa vinte euros, e era a mais barata. Mas, bem, antes de os cinco fantasmas e a sua mascote entrarem em palco, ouvia-se uma bela peça de ópera com coros gregorianos, “Miserere mei, Deus” de Gregorio Allegri e um fedor intenso a incenso fazia arder as narinas da frontline. A entrada em palco é feita ao pormenor, integrada teatralmente ao som de “Masked Ball” de Jocelyn Pook, a gerar lembranças de “Eyes Wide Shut” de Stanley Kubrick.

O concerto iniciou com “Spirit”, numa sala cheia apenas para um propósito: cantar aquelas cantigas, ao rubro e bem-dispostas. Idades variadas entre o público farto, da pré-adolescência a quarentões de cabelos compridos ou bigodes. Metaleiras sensuais, metaleiros iguais, tudo a cantar aquelas canções, com um sorriso na cara e as mãos no ar. Palmas e heys. Durante “Body And Blood”, umas freiras marotas irromperam pelo palco, com hóstias e o sangue do coiso, e ainda houve uns felizardos que beberam uma pinga de vinho tinto. Sabemos que, bem cedo, antes de tudo, perto do palco, raparigas eram abordadas pelo staff dos suecos na tentativa de integrarem o plantel.

A actuação foi em grande medida dedicada ao seu último álbum, editado em 2015, mas ainda houve tempo para o Papa proferir a palavra “Benfica”, o que claro fez entoar de imediato os cânticos da praxe. A componente teatral e visual da banda é a sua actuação ao vivo, não obstante os seus inúmeros êxitos. Nada acontece por acaso e o Papa Emeritus é um mestre de cerimónias audaz. “Mommy Dust” era das mais esperadas, o que aconteceu em júbilo perto do falso final: com o nosso querido Papa Emeritus III a referir-se a orgasmos simultâneos, coisa rara quando um casal atinge o nirvana ao mesmo tempo, evento sobre o qual versa a música “Monstrance Clock”, disse-nos o gajo.