Não há como não olhar para Gallows como um dos mais interessantes projectos de hardcore da primeira década do novo milénio. Capaz de transportar consigo um feeling de revolta reminiscente do espírito do street punk britânico e da primeira vaga de anti-Reagan, a banda de Watford juntou uma abordagem repleta de riffs ora dissonantemente post-hardcore, ora entranhados com um groove rock n’ roll. A complementar, os Gallows conceberam uma iconografia e uma mensagem coerentes. Grey Britain, a título de exemplo, traz às suas costas uma insípida e sombria bandeira do Reino Unido, capaz de retratar os subúrbios da Grande Londres, onde prolifera a frustração, a raiva e o empedernimento.

Tudo isto teve um fim o ano passado. Frank Carter, vocalista, decidiu abandonar a banda. Depois de várias tours, nas quais frequentemente se envolvia em confrontos com o público, o frontman optou por deixar os Gallows, declarando estar farto de sentir ódio e berrar sobre ele. Isto levantou imediatamente um problema. Frank Carter não é um tipo qualquer – muito do carisma do grupo a ele se devia. O aspecto de rufia tipicamente britânico, emparelhado com uma voz hostil, rasgada e munida de uma pronúncia cockney, conferiam a Gallows aura e personalidade únicas, dificilmente replicáveis. Os dados estavam do lado do resto do grupo. Ou cessavam actividades, ou procuravam um substituto. Semanas depois, Wade MacNeil (ex-Alexisonfire) foi anunciado como o sucessor de Carter, algo que de imediato fez soar o alarme. Como é que uma banda distintamente inglesa se lembrou de ir buscar um canadiano? Bem, era tempo de aguardar para conhecer o resultado.

O EP Death Is Birth, lançado ainda em 2011, não augurou grande coisa. O self-titled confirma a impressão. Não há como dizê-lo de outra forma: a troca de vocalistas aniquilou a identidade deGallows. O que agora temos é uma banda que soa similar a tantas outras que se passeiam pelo post-hardcore de feeling southern/rock n’ roll. O disco não é mau, não é horrível, mas também não está acima da média. Há momentos de incontestável qualidade, como aquele que nos traz Austere, uma malha capaz de nos refrescar a memória sobre os áureos tempos dos ingleses, mas há outros que dão vontade de carregar no stop – praticamente, todos os refrães. Não só a voz de Wade MacNeil não é nada por aí além (falta-lhe, lá está, algo que o distinga da imensidão de vocalistas que por aí há), como ainda trata de amaciar quando chega a altura do chorus. Quanto ao restante line-up, ele permanece intacto. E nele há um talento óbvio, principalmente quando o assunto passa pelos riffs. Todavia, a composição da banda não está tão agressiva e crua, soando evidentemente mais genérica e menos robusta. Para esta nova versão dos Gallows, até os Outcry Collective chegam.

Nada disto surpreende. A saída de Frank Carter, que agora dá voz a Pure Love (um projecto de rock comercial que conta também com Jim Carroll ex-The Hope Conspiracy), colocou um ponto final numa era de Gallows. Dela, ficaremos com dois excelentes álbuns. Da nova, com Wade MacNeil, por enquanto temos um EP e um longa-duração medianos, bem como uma personalidade e um simbolismo perdidos.