À vista desarmada e ao ouvido destreinado, os Gala Dropmudaram. São agora cinco (Jerry The Cat e Rui Damasojuntaram-se à banda) e a palete sonora é maior, ou pelo menos mais aguerrida. Por isto podemos culpar Ben Chasny, mas também teremos que o culpar por conduzir o fio do devaneio que ata e desata aquilo que os Gala Drop sempre foram (exploradores experimentados) e que ajuda a fazer de Broda aquilo que ele é: um ímpeto.
Broda cifra-se em meia-hora, mas basta fecharmos os olhos fechados para a viagem ser maior. Positano é a abertura perfeita para um disco que não é apenas poliglota, mas também polirrítmico. Por um lado, porque nos ajuda a mentalizar para o cortejar ritualista da transcendência do corpo e da mente que, com o atiçar das guitarras, rapidamente se transforma numa dança desenfreada – ou, de forma libertina, num testemunho puro de liberdade.
O balançar perfeito de uma África inteira que já estava lá de lições anteriores, surge reforçado em Broda, o tema título, em que as congas de Jerry The Cat parecem não só levar-nos pela mão, mas falar connosco. E com os teclados entrelaçados num trabalho de guitarra exímio (valeu a pena esperar pelo regresso de Chasny à eléctrica), a temperatura atinge valores dignos de um país como o Equador, que nos atira à cara, sem pudor e sem licença, a pungência escaldante e latina (porque não sexual?) dosMahavishnu Orchestra que ainda deixam saudades.
Não será prodígio menor a metronímia de Afonso Simões (homem que terá consumido Can nas doses mais que certas) e que ajuda a firmar terreno ilusório de onde a nossa mente parte para uma delirante viagem em parte cósmica, em parte psíquica. E acreditem que ao embarcar fazemo-lo com vontade de um admirável mundo novo que é ao mesmo tempo colorido, hipodérmico e intenso e onde a linguagem vigente é a do ritmo do corpo.
A estes Gala Drop, a resistência é inútil: ouvi-los é uma necessidade e dançá-los é um vício.