À semelhança do que aconteceu no Sábado, a segunda noite de festival iria iniciar-se com um concerto menos bem conseguido. A jogar em casa, os The Telegram – ainda sem trabalhos editados – apresentaram-se em palco num banco de jardim. Alumiados pela luz ténue de um candeeiro de rua, a dupla e as suas composições melancólicas passaram quase despercebidas num Cine-teatro ainda muito vazio. As canções algo desenxabidas que Filipe Amorim e Paulo Santos apresentaram nada acrescentam ao universo da folk actual. Não seria um concerto desagradável caso estivéssemos nalgum bar acolhedor mas o palco do Gente Sentada é, pelo menos para já, demasiado grande para eles.
Menos convencional e muito mais fascinante foi o espectáculo de Thomas Belhom – ‘convidado de honra’ dos Tindersticks. O músico francês, que já havia colaborado com a banda em The Hungry Saw (2008), rodeou-se de instrumentos e enfrentou o público da Feira num formato one-man band. Belhom trouxe ao Gente Sentada a língua de Gainsbourg e pisou territórios, até então, inexplorados naquele palco. Entre experimentalismos abstractos, percussões introspectivas e loops de guitarra o músico fez esquecer o erro de casting que o antecedeu e serviu o melhor aperitivo possível para o prato principal da noite.
Há bandas que têm um charme difícil de explicar. Os Tindersticks são uma delas. Bem vestidos, como os verdadeiros gentlemen que são, a banda de Stuart A. Staples iniciou o espectáculo virada para o passado – Blood, do álbum homónimo de 1993, foi o tema de abertura – e só duas músicas mais à frente iniciaram a sua investida no novíssimo The Something Rain – álbum que, ao longo do concerto, viriam a tocar na íntegra.
Durante quase duas horas de espectáculo os Tindersticks seduziram o público com as suas baladas intimistas de diferentes texturas. O registo dos britânicos foi desde o spoken-word em tom de confissão de Chocolate ao esquizofrenismo de Frozen; da intensidade crescente de Show Me Everything à bonita melodia deGoodbye Joe (com a qual a banda se despediu do palco). Foi um concerto emocionante que levou alguns elementos do público – para quem a emoção terá sido incontrolável – a “colaborar” imprevisivelmente com a banda nalguns temas. Stuart Staples e cia. agradeceram simpaticamente todas as inesperadas manifestações de carinho e, como resposta aos inúmeros ohhhhh’s desapontados aquando do anúncio do último tema, confirmaram antecipadamente os encores. “We might be back.” disse Stuart de forma algo tímida. E voltaram. Duas vezes.
Mesmo sem reunirem muita atenção mediática, os Tindersticksconseguem mobilizar uma boa base de fãs a quem dedicam espectáculos consensualmente excelentes. Isso ficou comprovado em Santa Maria da Feira uma vez que o festival que se dizia “para gente sentada” chegou ao fim com centenas de pessoas a aplaudir de pé. Bravo!