O Festival Para Gente Sentada é especial. Que o diga Devendra Banhart que, depois de um concerto mágico, compôs um tema de homenagem a essa noite e à cidade que recebe o evento – Santa Maria da Feira. Este ano Devendra não consta do cartaz mas não faltavam bons pretextos para duas noite de boa música no conforto das cadeiras do Cine-Teatro António Lamoso.
Num evento que, geralmente privilegia cantautores de registo introspectivo é curioso que os primeiros sons a ouvir-se tenham sido as batidas electrónicas dos Aquaparque. O que já não é surpreendente é que o concerto não tenha resultado bem. A pop atormentada de batidas hipnóticas desta dupla de Santo Tirso soou perfeitamente desenquadrada na noite de Sábado e Pedro Magina parecia ter noção disso. “Se adormecerem também é bom.” brincou ele no início do concerto, “É sinal que a música não incomoda muito.”, rematou. E realmente a música não incomodou (muito) mas também não conseguiu arrancar mais do que uns (muito) mornos aplausos. Verdade seja dita: Pedro Magina eAndré Abel não fizeram por merecer mais do que isso.
Depois da sonoridade difícil dos Aquaparque as coisas começaram finalmente a fazer sentido. Sentados, como mandam as leis deste festival, os A Jigsaw e sua folk soturna, deram um concerto excelente que trouxe à Feira reminiscências de nomes maiores como Leonard Cohen ou Johny Cash. Com simpáticos monólogos e diversas referências culturais de permeio, os A Jigsaw apresentaram não só Drunken Sailors and Happy Piratesmas também algumas músicas novas que deverão ser editadas ao longo do ano em diversos formatos (inclusivamente em cassete). Com muitos quilómetros de estrada percorridos em extensas tours europeias, a experiência deste trio (aqui feito quarteto) era evidente e os aplausos (agora sim calorosos) não se fizeram esperar.
Findo o espectáculo dos A Jigsaw aproximava-se o momento mais aguardado da noite e o burburinho fez-se sentir de imediato. A expectativa era quase palpável. “Ainda nem começaram a tocar e já sinto coisas.” dizia uma fã entusiasmada. Não era caso para menos – os Low são daquelas bandas como há poucas. Os percursores do movimento slowcore – uma designação que os próprios rejeitam mas que tão bem descreve o doce embalo das suas melodias – tomaram conta do palco e do público com o seu doce embalo. Alan Sparhawk, Mimi Parker e Steve Garrington, tanto em estúdio como em palco, são praticantes da filosofia do ‘less is more’. Quem precisa de adereços ou artifícios quando se tem temas brilhantes como Witches, Nightingale e Especially Me(do mais recente C’mon) ou California, Silver Rider e Sunflower(dos aclamados The Great Destroyer e The Things We Lost in the Fire)?
Com três elementos apenas, os norte-americanos encheram o palco de uma forma mágica que, nessa noite, ainda não tinha acontecido proporcionando a todos um concerto avassalador e carregado de emoções fortes. Magníficos!