A presença dos suecos The (International) Noise Conspiracy em terras galegas, para participar na edição de 2008 do festival Festigal que decorreu em Santiago de Compostela, serviu de mote para a primeira deslocação ao estrangeiro do Ponto Alternativo. À nossa espera estava uma cidade inundada de turistas, peregrinos, curiosos, galegos e muita chuva. A juntar ao festival, celebrava-se em simultâneo o dia de Santiago e o dia da pátria galega, o que atraiu milhares de animados manifestantes pela independência da província espanhola e coloriu as ruas de azul e branco.

Tanto por falta de espaço na cidade apinhada de pessoas, como por ser gratuito, assim como pelo cabeça de cartaz sonante, o primeiro dia da 7ª edição do Festigal registou uma grande enchente que a chuva não conseguiu afectar minimamente, a confirmar pela enorme multidão no recinto. Além dos concertos que foram o principal motivo de atracção, ocorreram durante toda a tarde debates políticos (o festival é organizado por um partido independentista), concertos de música tradicional galega, workshops e haviam inúmeras bancas de livros, de artesanato, roupa e ainda uma área dedicada a “software livre”.

No palco principal, o dia abriu com o nu-metal da banda de VigoNao, com uma postura que em tudo combinava com o ambiente vivido na cidade e no festival, carregada de intervenção e espírito independentista. Todos vestidos com fardas iguais (a adivinhar os heróis da noite), uma boa presença em palco, com um guitarrista meio diabólico a focar em si as atenções e um vocalista que em certos momentos parecia uma cópia da versão mais recente doZack de la Rocha, asseguraram uma inauguração competente, com um som bastante sólido e uma clara experiência de palco.

Já com o recinto muito mais composto subiram ao palco os Caravan Palace que tinham assinalado uma bem sucedida presença em Portugal há cerca de um mês, no festival Med a acontecer anualmente em Loulé. A estimulante fusão de Jazz com música electrónica, na senda do que vem sendo feito por outros artistas que misturam estilos clássicos e tradicionais com elementos de música moderna, serviu para aquecer e convencer os presentes que não pararam de dançar contagiados pelo ambiente festivo e pela energia que brotava do palco. Também este intrépido repórter que vos escreve esqueceu pela primeira vez a chuva que insistia em chatear, animado pelo divertimento e pela mestria instrumental desta pequena orquestra composta por violinos, contrabaixos, percussões, pianos, saxofones, maquinaria electrónica e uma simpática vocalista dotada de uma bela e quente voz.

O crescimento e a originalidade dos parisienses não foi suficiente para ofuscar os Lamatumbá que parecem beneficiar duma enorme popularidade na área. A resposta foi à altura, tanto do público como da banda, que depois de uma intensa sessão de aquecimento no backstage ofereceu à noite compostelense mais uma prestação enérgica e incansável. O som que praticam é propício à festa com uma mistura explosiva de Ska, Reggae, Funk e outros sons tradicionais e, mais uma vez, os presentes não desistiram de acompanhar a movimentação que transbordava do palco, dançando e pulando ao longo de toda a performance.

Talvez por isso os suecos não tenham tido uma recepção tão entusiasmada por parte do público presente. Há várias possíveis explicações para o sucedido e um ponto de partida é começar por destacar as caras embevecidas das meninas que ocupavam as filas da frente, atirando sucessivos sorrisos e pedidos de procriação para aquele que há pouco tempo atrás foi considerado o homem mais sexy da Suécia por uma revista da “especialidade”, o vocalista mais conhecido por Dennis Lixzen. Na realidade, por muito contagiante que seja o som dos The (International) Noise Conspiracy, aqueles que vão para o concerto sem saber o que esperar da prestação demolidora desta experiente banda, perdem-se mais facilmente a admirar as acrobacias dos músicos e a sensualidade do vocalista do que a vibrar com a energia do concerto. Nem falo em cantar, conhecida que é a dificuldade dos espanhois em falar inglês – comprovada inúmeras vezes pelas versões desconhecidas das letras que ouvi serem cantadas com as melodias dos T(I)NC.

Mas apesar desta aparente falta de entusiasmo, que era realmente apenas aparente, a banda parecia que não actuava há meses tal foi a entrega em palco. É escusado sublinhar que a sua presença está cada vez mais sólida, com uma harmonia de saltos e corridas transversal a todos os elementos da banda. Além disso, apesar de muitos ainda desconfiarem se os suecos ainda são realmente uma banda devido aos sucessivos atrasos no lançamento do novo CD, a alegria e a união dos músicos esteve sempre bem vincada pelas brincadeiras e comunicação entre todos em palco.

Vestidos de gala como é habitual, desta vez as fardas não tinham nem estrelas, nem camisolas às riscas vermelhas e negras, mas eram antes compostas por um visual mais clássico, em tecido aveludado branco e roxo, entrando Dennis em palco com uma longa capa, qual super herói ou cavaleiro da revolução.

Com The Cross of My Calling a chegar à rua em breve, a setlist foi enriquecida com cinco temas do novo registo que serviram para aguçar ainda mais o apetite. Logo a abrir o concerto e após uma pequena intro ainda sem o vocalista em palco, é-nos oferecidaAssassination of Myself. Seguiram-se os hits dos anteriores Cd’s, como Up For Sale, Let’s Make History, Communist Moon, Black Mask, Like a Landslide, A Body Treatise ou Smash it Up, intercalados por outras quatro músicas do aguardado novo registo, entre elas Hiroshima Mon Amour, Washington Bullets e Black September, dedicada à luta palestiniana. A fechar, chamados para o um encore de duas músicas, veio a inevitável Capitalism Stole My Virginity, com Dennis Lixzen a optar por gritar frases revolucionárias, terminando com a banda a despedir-se na frente do palco de punho erguido juntamente com uma pequena multidão que se distinguia dos apelos femininos à procriação.

Depois desta prestação, aguarda-se ansiosamente a vísita dos suecos a solo nacional, desta vez, de preferência, em concerto próprio e não em festival. Para além da nota positiva para a prestação da banda que deu por merecida a odisseia da redacção do Ponto Alternativo a território estrangeiro, ressalte-se também a excelente recepção e a simpatia da organização que tudo fez para facilitar o nosso trabalho. Pode ser que seja um até para o ano, Festigal!