Quem esperava ver Ben Frost, na noite ventosa de sábado, foi apanhado de surpresa. Na bilheteira do Teatro Maria Matos, os vários avisos colocados anunciavam que o músico australiano, residente na Islândia, não iria comparecer. O motivo? A greve dos controladores aéreos espanhóis, que impediu, até, uma segunda tentativa de Ben Frost em chegar a Portugal, através de um voo proveniente de Frankfurt.

Goradas as expectativas de assistir à actuação do “aussie”, quem quis teve a hipótese de ver, por metade do preço, o austríaco Fennesz, acompanhado por dois compatriotas: Werner Dafeldecker no contrabaixo e Martin Brandlmayr na bateria – numa actuação que já estava previamente marcada e que iria, caso tudo corresse como previsto, anteceder o concerto de Ben Frost.

Numa apresentação apoiada pela Embaixada Austríaca, os três músicos dispuseram-se num palco sóbrio, ante uma plateia relativamente bem composta. Sem dizer qualquer palavra e distribuindo parcos sorrisos e acenos, FenneszDafeldecker e Brandlmayr iniciaram um concerto inquietante e pouco ortodoxo. Fennesz, entregue à sua guitarra imersa numa muralha de samples provenientes de um MacBook, actuou sentado, impávido, balanceando a cabeça, aqui e ali, principalmente nos momentos mais ensurdecedores do concerto.

Werner Dafeldecker criou uma sensação de unicidade com o contrabaixo. Ora lhe batia sonoramente com o arco, tanto nas cordas quanto na madeira, ora o deitava no chão, cobrindo-o com o suor que lhe jorrava da testa. Ligado a um amplificador imponente, o contrabaixo de Dafeldecker foi o tenor de serviço, de voz grave e impetuosa, atacando por entre os ruídos de Fennesz.

Brandlmayr, membro dos Radian (que actuaram na noite anterior, também no Teatro Maria Matos), usou o seu drumkit de forma pouco usual, estabelecendo um ritmo que soava desconexo, mas fazia sentido, na descarga ambiental/electrónica/noise que vagueava pelo Teatro lisboeta. Não foi surpreendente, por consequência, ver Brandlmayr pegar, também ele, num arco e acariciar os pratos que o circundavam.

Durante uma hora, a plateia, devidamente sentada, saboreou uma actuação musical invulgar. Num breve olhar em redor, era fácil descobrir alguém de olhos fechados, ou com um gorro, por exemplo, a tapar a visão. E, tendo eu também experimentado a sensação de absorver o corrupio experimental do trio austríaco de olhar cerrado, é de facto uma das melhores formas de contemplar o que vinha do palco do Teatro Maria Matos.

Tivesse Ben Frost chegado a Lisboa e teria sido, provavelmente, uma das melhores noites deste Outono de 2010.