Feist não é só uma cantora. Ou essa é a minha nova opinião sobre uma artista cuja voz sempre respeitei e cujo percurso sempre acompanhei, mas que o percurso a solo nunca me convenceu. Metals, ainda com as típicas abordagens da folk que caracterizam a carreira da canadiana, traz uns verdadeiros momentos de dark country, de lembrar mestres como Wovenhand, e consegue mostrar que a imaculada voz de Leslie não esmorece, passe quanto tempo passar.

Num álbum maioritariamente acústico, é difícil falar-se de plug-ins para a música que contém, mas Feist fez, definitivamente, um upgrade às suas composições e isso está bem evidente desde a primeira, tão negra e tão bela The Bad in Each Other, ideia que passa para Graveyard e que, de forma diferente, vem à tona com o soul-gospel dos últimos segundos de Cicadas And Gulls. Parece que a canadiana se virou para o lado mais negro da força que é a folk norte-americana e abraçou as influências do country feito nas montanhas frias do Colorado, em oposição à alegria alcoólica que se faz sentir nos vastos e quentes desertos dos Estados Unidos.

No fundo, quase que parece que, em Metals, decidiu abraçar calorosamente a falta de vida que assola o clima do Canadá nos tempos de inverno que se aproximam. Esta Feist mais triste derrete-nos melhor com a sua doce voz, mostra-se tão ou mais apta para os corações partidos do que Chan Marshall e prova ter uma capacidade de enriquecimento das suas músicas que vai além da folk de guitarra ao colo, que, de resto, também está evidente neste último registo, ou do indie pop com uma alegria infantil.

Este é um álbum maduro, feito para os tempos frios. Será a lareira dos que não têm chaminé e o aquecedor dos que querem poupar na electricidade, sim, mas não só. Será um amor para levar na rua e para partilhar com o mundo. Feist, assim gosto de ti!