Já dizia Ricardo Araújo Pereira, num quintessential sketch do Gato Fedorento: “O lusco-fusco é isto. Cinco, sete minutos, só que muito intensos!”. A essa descrição correspondem, quase na perfeição, os Magrudergrind. A diferença assenta somente no facto de que, em vez de cinco/sete minutos, são uns quinze/vinte. Em relação à intensidade… Bem, quanto a essa não há dúvidas: o trio norte-americano é um assalto com caixa de velocidades agarrada a um motor embebido em powerviolence. Suficiente, até, para fazer o guitarrista cair desamparado em cima da bateria, depois de escorregar durante a intro de The Protocols of Anti-Sound, faixa que inaugurou a noite.

Quem esteve por Barroselas, em Abril passado, provavelmente afirmará que em Cacilhas os Magrudergrind não atingiram os níveis de demência da actuação no festival minhoto. Compreende-se. Desta vez, a banda abriu a noite (não tocou à uma da manhã, como no SWR) e actuou perante uma plateia em menor número e não tão entregue ao alucinado ritmo da troika do fastcore – que, ontem, se apresentou quase com um visual à Deafheaven; um curioso oximoro, tendo em conta a sujidade que os Magrudergrind sempre aplicam em faixas como Emo Holocaust, Zero Substanceou Deceiver.

Falando em sujidade, arrepia sentir e ouvir a tonalidade da guitarra dos Rotten Sound, ainda em fase de soundcheck. Quase dá vontade de ir até Mika Aalto e pedir-lhe tocar para Wolverine Bluesdos Entombed. Mas, não, deixemos antes os finlandeses aplicarem a sua mesinha grind. E não é ela uma das melhores do género?

Baseando o set naquilo que é o seu passado recente, os Rotten Sound libertaram a sua máquina de guerra finlandesa Revolver dentro, onde Cursed foi a roldana-mor de uma engrenagem que parece ter ainda poucos anos de vida. Puro engano: os nórdicos andam nisto desde 1993. A sua vitalidade e a forma natural como discorrem uma Hollow, ou uma mais antiga Void, passando pela explosiva Western Cancer, iludem e fazem acreditar que os Rotten Sound ainda são uns aguerridos miúdos à Magruder. Basta olhar para o vocalista Keijo Niinimaa para entender que o colérico e “encrustado” fuelóleo que abastece os finlandeses permanece fervilhante: quantos frontmen com vinte anos de estrada ainda têm pica para descerem do palco e participarem no mosh? Uma lição de grind, na execução e na intensidade, comprovando que osRotten Sound são reis na cena europeia. E esse título não parece capaz de lhes fugir nos vindouros tempos.

Keijo tinha avisado que os Exhumed iriam fazer mossa à plateia presente no Revolver. E não estava errado. Se é verdade que, estilisticamente, os norte-americanos facilmente se distinguem a olho nu das duas bandas que os precederam, é verdade também que a maioria do público esteve em Cacilhas para os ver – ou não fosse esta a estreia do grupo em solo nacional. Num grind que se diferenciou dos demais por respirar as raízes do death metal old school (onde os solos são parte essencial) e também na vertente gore, os Exhumed arrancaram um concerto sólido, onde, curiosamente, as malhas de All Guts, No Glory, o seu mais recente álbum, foram das que melhor resultaram – não obstante o som, que várias vezes tornou as guitarras um pouco difusas.

So Let It Be Rotten… So Let It Be Done ou I Rot Within marcaram o compasso de uma actuação robusta, onde também não foi olvidado o passado. Escutou-se NecromaniacDecrepic Crescendo e uma Casketcrucher, condições suficientes para que o público obrigasse os californianos a regressar rumo a um encore visivelmente enérgico, que deixou Matt Harvey ofegante e rendido à sua primeira impressão de Portugal. Mike Hamilton, o baterista que preenche ao vivo o lugar de Danny Walker dos Intronaut, estaria disposto a mais uma hora, dada a sua aparente e impressionante frescura – e certamente o público, que deseja que os Exhumed não entrem em novo e prolongado hiato por mais cinco anos. Pena, só, que não tenha estado mais gente por Cacilhas.