Olá, chão do Santiago Alquimista, disseram muitos daqueles que se deixaram tolher pelo vórtice chamado Every Time I Die. O maldito degrau da sala lisboeta é perito em fazer baixas, é certo, mas de que interessa isso quando o verdadeiro tareão está nos riffs de Apocalypse Now And Then e na C4 rítmica que é Ebolarama?

Na sua imensa gana de tudo mandar para a meretriz que pariu, os nova-iorquinos pegaram também no Inverno e deram-lhe um pontapé na nuca. Às tantas, o bafo já parecia de Agosto e The Marvelous Slut banda sonora para fazer stage dives nas dunas. O amontoado de corpos em ziguezague à frente do palco recordava até uma ameaçadora areia movediça, por onde se iam perdendo ténis, bonés ou camisolas. No balcão superior, o sossego era maior, mas nem por isso houve tréguas. She’s My Rushmore serviu de impulso para o primeiro de três saltos de um corajoso fã da banda americana.

Admirado, o vocalista Keith Buckley confessou que estava a ver coisas no Santiago Alquimista que nunca tinha visto em mais lado algum: “Há gente a saltar aí de cima e raparigas no mosh mais forte do que os rapazes… Que raio é isto?!” – É Portugal, Keith, é Portugal. E só se percebe o teu espanto pelo facto de esta ter sido a primeira vez que tocaste para nós.

E, convenhamos, a coisa ainda estava relativamente mansa. Quando Wanderlust se apresentou em toda a sua formosura, o público elevou o jogo para outra parada, com o sing along a entrar em cena, misturado com a saliva com que os dois guitarristas faziam questão de disparar. Underwater Bimbos From Outer Space, música que fará parte das contas do próximo disco, também não serviu para hastear bandeira branca na incessante desordem. Como se a conhecesse há anos, o público português lá se rendeu aos encantos de uma música que antevê uns Every Time I Die na sua velha e boa forma em 2012.

“Stage dives, stage dives”, repetiu Keith várias vezes. Como se fosse preciso: afinal o final aproximava-se e I Been Gone Long Time deixa qualquer Richter ou Mercalli sem saber como medir o impacto. “You don’t live ’til you are ready to die” virou lema de final de noite, quando We’rewolf apareceu de apetite voraz, dona de um senhor breakdown, que levou o Alquimista a espernear e a contorcer-se, mais uma vez.

Floater encerrou a noite de bordoada, onde houve tempo para que um dos guitarristas puxasse uma série de gente para cima do palco, afim de cessar as actividades ao melhor estilo dos Every Time I Die: numa massa indistintamente caótica, onde público e banda são componentes de uma demência que apenas nos dá vontade de sorrir e festejar a inferneira. Sim, foi um erro só cá terem vindo agora e, pela reacção da banda, Portugal passará a paragem obrigatória em qualquer futura tour europeia.

Dois grupos tiveram honras de abrir para os norte-americanos. Primeiro, os gauleses Vera Cruz, que trouxeram a Lisboa o seu hardcore/metalcore feito de musculados breaks, algo que agradou às poucas almas que estavam diante do palco. O vocalista tentou por várias vezes puxar pelo parco público, deslocando-se à plateia para incitar ao corrupio. Nada feito. Ainda assim, os Vera Cruzsaíram de Lisboa com nota positiva.

Depois, vieram os portugueses Hills Have Eyes, que conseguiram aglomerar um maior número de pessoas à sua frente. Nome forte na cena metalcore nacional, os setubalenses entregaram-se ao Santiago Alquimista durante meia-hora, onde o ponto de destaque terá de ir para as faixas novas apresentadas durante o concerto – o novo disco dos HHE está a caminho e, pelo que se pôde ouvir (no meio do embrulhado som da sala lisboeta), vem aí coisa boa.