As introduções de boas-vindas de um concerto dos Every Time I Die fazem-se à Keith Buckley: “eu quero estar morto com os meus amigos”, diz ele, marcando a saliva o início da segunda passagem dos norte-americanos por Lisboa em menos de um ano. Na outra, a primeira, Underwater Bimbos From Outer Space também foi destrinçada – a diferença é que em Dezembro de 2011 ainda desconhecíamos a que contexto pertencia; i.e., Ex Lives, um dos melhores discos da carreira dos nova-iorquinos e um dos grandes de 2012.

Embalados por esse álbum, não há razão para nos preocuparmos com a declaração suicida de Keith, que por estes dias passeia uma barba ao nível de um gig de Every Time I Die: contundente. De sinais vitais em dia, e visivelmente entusiasmados por encerrarem a sua tour europeia em Portugal, os norte-americanos voltaram a tirar do bolso alguns dos seus melhores cartuchos –Bored Stiff, I Been Gone A Long Time, No Son of Mine ou After One Quarter of a Revolution quase conseguiram recuperar a atmosfera do Santiago Alquimista há onze meses atrás, com inevitáveis nuances. Desta vez, sem grades e sem aquele arriscado degrau que se intromete por entre a plateia. Desta vez, com uma acústica bem inferior.

Durante Every Time I Die, a República da Música foi o domicílio perfeito para um incisivo ataque de tinnitus. Para além de muito alto, o som revelou outras falhas: não foram poucas as vezes em que as guitarras de Andy e Jordan se afogaram na vastidão de ruído, vastidão essa por onde a voz de Keith também se perdeu. Um “pormaior” essencial, que rascunhou a caneta de feltro aquilo que poderia ter sido outro imperial concerto dos ETID. É que os homens até se lembraram de ir buscar Ebolarama e Floater, malhonhas de um Hot Damn! que ainda tolinhos nos deixa quase uma década depois. Foi tudo para o pile on berrar “drag the lake, you’ll find that it’s full of love”, qual 2003, com o mano Buckley a sorrir de satisfação. Pelo meio, ainda sacaram o riff final da Domination dos Pantera (sem direito a Dimebag shredding), deram uma oportunidade àqueles que só conhecem os singles para participar na festa com a Wanderlust, e testaram a trívia do público com Grudge Music, malha extra do seu mais recente álbum.

O final, esse, também se cozinhou a lume não-óbvio. Indian Giver, que encerra Ex Lives, deixou cair também o pano sobre o concerto lisboeta, numa inequívoca prova de que os norte-americanos sabem brincar ao sludge sulista – perguntem ao Andy, que anda sempre com uma hoodie de Goatsnake.

Na primeira parte, três acts nacionais. Os For Godly Sorrow abriram a noite com o seu deathcore carregadinho de breakdowns, numa actuação semelhante àquela que perpetraram no dia em que os Cancer Bats passaram pela capital. De outra geração, e norteados por outros ventos, os We Are The Damned deram provavelmente o seu melhor concerto em Lisboa nos últimos anos – desta feita, somente com Mike Ghost na guitarra. Acima do que se passou na noite de sábado, provavelmente só aquele disparate electrizante que foi o gig no Barroselas de 2011, onde houve gente a sangrar e a engolir golfadas de pó. Não admira que o Andy Williams lhes tenha comprado merchandise e tenha aconselhado, na internet, toda a gente a conhecer os WATD. A caminho do sucessor de Holy Beast, a banda está no seu apogeu, atestando por aquilo a que se assistiu na República da Música. Cuidadinho com o que vem aí: os novos temas prometem.

Falando em SWR 2011, os Mr. Miyagi também por lá estiveram. Mas, ao contrário dos We Are The Damned, a prestação em Lisboa levantou alguns pontos de interrogação sobre a banda de Viana do Castelo. As malhas do próximo disco, mais lentas, não puxaram por aí além um público que dos Miyagi espera o caos e não uma simples rock n’ rollada. A juntar a isso, o vocalista Cisomostrou-se fatigado (quiçá, fruto do concerto da noite anterior no Hard Club), algo que se reflectiu em toda a prestação dos minhotos.