É difícil não ouvir este Ex Lives a pensar na javardice (no bom sentido) de concerto que os Every Time I Die deram no Santiago Alquimista, em Dezembro passado. Nele, foi quase impossível reparar em Underwater Bimbos From Outer Space, a única malha do novo álbum incluída no set a que tivemos direito. No meio de uma Bored Stiff ou de uma She’s My Rushmore fica difícil prestar atenção ao desconhecido. Acontece. Mas, caramba, a faixa de abertura de Ex Lives é dos melhores tacos de basebol que os ETID já usaram para nos espancar.
Um álbum que abre desta contundente forma, onde as guitarras continuam entregues ao caos e onde o bem badalhoco breakdown volta a fazer parte da imaginação do quinteto, é de deixar um tipo feliz. Afinal, são catorze anos de carreira. Afinal, já são seis álbuns. E estes indivíduos continuam a não desiludir, permanecendo tão assertivo-agressivos como naquela Romeo A Go-Go de 2003, que dá vontade de mandar a secretária janela fora. A prova de que os Every Time I Die são factualmente dementes é que eles já podiam ter guardado a violência na arrecadação. Já podiam estar a viver dos rendimentos de outrora e de álbuns menos dados a essa coisa do suor, dos empurrões e dos stage dives encarpados. Mas não. Lá vão eles, sem qualquer armadura ou protecção, provocar a desordem.
Ex Lives, mesmo estreando o baterista Ryan Leger nos longa-duração, não abranda, nem um pouquinho, o ritmo que pauta a dança de loucos que os ETID provocam nos seus seguidores. Lá está o hardcore escrito por linhas tortas, lá está aquela brisa southern (até se ouve bluegrass em Partying Is Such Sweet Sorrow) e lá estão as inigualáveis letras de Keith Buckley. Pelo meio, ainda espaço para a surpresa: uma Revival Mode que se mostra linear, de ares à Queens of the Stone Age, como que a conceder-nos fôlego para beber uma geladinha.
Um disco que quase dá vontade de dizer obrigado. Quase dá não. Dá mesmo. A fúria que alimenta os Every Time I Die não esmoreceu e os norte-americanos permanecem tão válidos em 2012 como há dez anos atrás. Case study.