Quando falamos de bandas que misturam influências ou enveredam por novos caminhos, defrontamo-nos imediatamente com o problema da terminologia. Termos como “psicadélico” ou “ambiental” poderiam dar uma ajuda a descrever certas bandas nos anos 60, mas a variedade de subgéneros da actualidade torna essas palavras praticamente obsoletas, deixando-nos com uma grande dificuldade em traduzir para a linguagem verbal as particularidades sonoras de uma banda. Poderíamos chamar à música dos Barn Owl “drone ambiental, à base de guitarras eléctricas”, o que não ajudaria alguém não familiarizado com a banda a perceber em que medida difere de algo tão distinto como Sunn O))). Por esse prisma, parecerá redundante que Evan Caminiti, uma das duas mentes criadoras do drone dos Barn Owl, decida lançar sozinho Dreamless Sleep, também ele um álbum de drone.

Na verdade, este já é o sexto registo a solo de Caminiti desde 2010, e Jon Porras, a outra metade da banda, conta também com cinco (crítica a Black Mesa, lançado em Abril de 2012, AQUI), o que já nos indica que Barn Owl não será tanto uma só mente repartida em duas cabeças mas antes uma fusão perfeita entre ideias musicais que se complementam. O ano passado, compuseram um magnífico Shadowland recorrendo a paisagens sonoras que se estendem até ao infinito; Lost in the Glare, por outro lado, era recheado de pequenas viagens que nos levavam de um ponto a outro, como se de etapas se tratassem. O seu domínio dos instrumentos de seis cordas não os fez prescindir de uma secção rítmica, que tanto podia indicar subtilmente o caminho (Midnight Tide) como marcar claramente o passo (Turiya e Devotion II).

Isso desperta de imediato a nossa curiosidade. Será Barn Owl um compromisso com concessões mútuas, ou será uma relação simbiótica na qual cada membro domina um aspecto diferente da sonoridade geral? Dreamless Sleep, lançado em Agosto via Thrill Jockey, poderá oferecer-nos a resposta.

Tanto quanto o título do álbum, também os títulos das próprias músicas sugerem um desejo de atingir o nirvana, de suprimir o ego e as emoções para podermos pertencer à serenidade do cosmos. É com esse mindset que flutuamos desde Leaving the Island atéBecoming Pure Light, acompanhados de omnipresentes delays, reverbs, e sintetizadores, bem como de tape hiss ocasional, parte integrante do ambiente criado em músicas como Symmetry. Nela, bem como nas outras seis, ouvimos a construção de um mundo etéreo, no qual os vários drones surgem em lentos fade ins, acumulando-se até criar uma densidade que se evaporará com a mesma lentidão. Podemos ser enganados e esperar crescendos “à post-rock” em músicas como Fading Down, mas a fórmula não muda. A tensão dissipa-se de forma tão lenta que é difícil mantermo-nos a par dos nossos próprios estados de espírito. A última música é a única a começar com uma massa sonora considerável, e é talvez também a única na qual parecem coexistir duas vontades contrastantes, como se o último passo da jornada fosse o mais difícil. No entanto, o final é bem claro, pois os sons sintetizados do último minuto assemelham-se a um coro angelical e jubilante.

Com este álbum, Caminiti não pretende superar Barn Owl, e não pode sequer ser ouvido da mesma maneira, já que, embora com pausas claras entre cada música, parece tentar levar-nos a aceitar a sua premissa. Se Dreamless Sleep nos convence, ou se continuamos a preferir sonhar, depende apenas do ouvinte.