Os Esmerine começaram por delinear este regresso aos álbuns com uma diferença abismal relativamente ao que caracteriza os seus dois registos anteriores: Beckie e Bruce deixaram de estar juntos na sua demanda de explorar uma relação entre elementos de percussão melódica e o violoncelo. Em La Lechuza, juntaram-se-lhes Sarah Page, com a sua harpa, e Andrew Barr, com mais percussões. O luto, laço que juntou esta formação pouco ortodoxa, ajudou, em definitivo, a cimentar os ambientes tristes, negros. Esta é uma obra de saudade e uma homenagem bela à vida de Lhasa de Sela.
O princípio emotivo demarca os canadianos do seu passado mais frio e calculista, porventura fruto de uma escrita em camadas e feita à base de loops, no defeito que é tocar a dois, um peso que lhes foi retirado com a harpa e com mais distorção. La Lechuza é uma depressão imediata, que encontra no som fantasmagórico da harpa o elemento de expressão mais dolorosa – apesar de não ser o centro da composição do quarteto, é a sua harmonia, a ressoar de forma assertiva, que determina o tom com que o violoncelo se lamenta e as percussões se expressam. Mesmo a inclusão da voz de Patrick Watson acaba por não ser, em nada, um factor de distracção para a beleza que persegue a melodia dos instrumentos, nas milhentas formas como este são tocados.
Dizem quando Lhasa morreu, nevou durante quatro dias a fio em Montreal, onde vivia e de onde são os Esmerine. Este álbum é a banda sonora ideal para momentos desses; não há muitos registos que consigam ter as emoções à flor da pele de forma tão natural, mas os canadianos conseguiram-no com a sua comunicação. Sempre que La Lechuza tocar, nevará um pouco dentro de nós.