Em palco, os Efterklang são seis. Têm de tudo desde teclados, sintetizadores, guitarra, bateria, baixo, tambor, trompete e mais umas coisinhas. Ao olhar para o palco do concerto, o espectador pensa: “Então mas eles vão ter sequer espaço para se mexer, ali em cima?”. O que mais impressiona nos Efertklang, infelizmente, não é tanto a quantidade de instrumentos que têm em palco, mas antes a forma como, mesmo assim, fazem canções tão parecidas umas com as outras, e as tocam de forma tão pouco impressionante.
Bandas multi-instrumentalistas estão na moda. São comuns os grupos em que cada músico se dedica a mais que um instrumento, ou bandas que usam mais de uma dezena de instrumentos em palco. Os Efterklang são, infelizmente, uma banda deste género onde nenhum dos músicos é particularmente bom naquilo que faz (aquele baixista, em particular, parecia saber fazer apenas o básico dos básicos com o instrumento), e onde na música em si não há grande criatividade. As comparações com bandas como, por exemplo, os Fanfarlo (que este ano ano brindaram com um concerto muito melhor), são inevitáveis, e se já em disco os Efterklang saíam a perder, ao vivo isso mantém-se. O concerto que deram no Musicbox (esgotado) não foi mau, no sentido em que teve alguns bons momentos e nunca se tornou propriamente aborrecido, mas também esteve longe de ser um concerto que mereça qualquer tipo de destaque ou elogio; foi, apenas, mais um, dado por uma banda que é apenas mais uma entre tantas outras, que varia entre a mediocridade e a mera competência nos seus vários aspectos. Nunca foi além do “agradável”, e na maior parte do tempo ficou-se pelo “não aquece nem arrefece”.
Claro que há-de desde já dar a entender que esta é a minha reacção, e apenas a minha, ao concerto. No geral, o público parece ter adorado. Esgotaram o Musicbox, provavelmente já conheciam bem os álbuns da banda, e sabiam para o que iam. Mesmo gostando ou adorando a banda em disco, custa-me ainda assim perceber como será possível evitar a desilusão vendo a banda ao vivo, já que em concerto as canções não ganham o entusiasmo que deveriam (aliás, ficam algo reduzidas, sem aqueles arranjos quase orquestrais existentes em álbum).. Ouvi-las em concerto ou ouvi-las em disco é, praticamente, o mesmo. Mas, ao que parece, o público adorou; aliás, no final a banda regressou ao palco para um inesperado segundo encore, que não estava previsto no alinhamento da noite. Mas já lá vamos.
A noite começou bastante bem, com uma curta mas muito agradável primeira parte feita por Frederik Teige, membro da banda, que ao longo de cerca de vinte minutos mostrou os seus dotes a solo. Munido de uma guitarra eléctrica e uma boa voz, ocupando no palco o lugar que mais tarde viria a ocupar já com a banda (ao fundo, a sós com o seu instrumento), Teige mostrou ter potencial para uma bela e proveitosa carreira a solo. Foram vinte minutos calmos e extremamente agradáveis, onde no final se ficou com pena de não se ter ouvido mais; algo muito, muito raro para uma primeira parte.
Algum tempo depois, quando já passavam pouco mais de quinze minutos da meia-noite, entram os Efterklang em palco. Começam com Alike, música de Magic Chairs, álbum que lançaram em Fevereiro deste ano e que vieram cá apresentar ao vivo. Início morno, sentimento esse que se mantém com I Was Playing Drums, canção tocada de seguida, também do último álbum, que por vezes lembra uns Coldplay tecnicamente menos eficazes. Em palco, a banda não impressiona com o que faz: nenhum deles toca particularmente bem, cada instrumento é usado de forma bastante básica, e estranha-se que com tantos instrumentos em palco tudo acabe por soar, ainda assim, um pouco “vazio” demais. Com Step Aside, repescado de Tripper, primeiro álbum da banda, as coisas melhoram com o espírito mais energético e a electrónica presente no som da banda a ter maior destaque. O único membro feminino da banda, que toca teclas a um canto, usa aqui a sua voz para criar um ambiente de uma beleza que, infelizmente, não foi uma constante ao longo da noite. O alinhamento iria suceder-se com altos e baixos, em que os piores momentos foram absolutamente banais e os melhores não foram muito além do mero agradável.
O vocalista da banda em si é uma personagem curiosa. Por vezes gosta de atirar versos sem microfone (síndrome Rufus Wainwright?), desce uma ou outra ao público, e vai sorrindo e agradecendo ao longo da noite. Passeia-se pelo palco, e por vezes tem um ou outro momento de improvisação. Um deles, em que decide bater com as baquetas do seu tambor na escada de madeira ao canto do palco do Musicbox, começa bem mas acaba mal, com o baterista da banda a ficar a certa altura confuso sem conseguir acompanhar ou perceber sequer o ritmo do que está a ser feito pelo seu colega. O grupo em si toca em certas alturas de forma bastante desajeitada, sem saber exactamente quando começar ou terminar uma canção, por exemplo. Como músicos, não são propriamente dos mais impressionantes.
O espectáculo vai-se sucedendo, percorrendo os três álbuns do grupo. Raincoats eModern Drift terminam de forma morna (que é, talvez, um dos adjectivos que melhor descreve o espectáculo) o corpo principal do set, perante um público totalmente rendido que, não tendo cantado nem uma única vez em voz alta nenhuma das canções, bateu palmas de forma frequente e nunca deixou de mover o corpo. “Estão todos a sorrir”, diz a certa altura o vocalista. Sim, acredito que estivessem. Modern Drift foi, ainda assim, dos melhores momentos do concerto, algo esperado tendo em conta o estatuto de single da canção e a sua própria estrutura simples e directa, que dá facilmente para bater o pé e, caso se queira, cantar o refrão.
Foi, ainda assim, nos dois encores que o espectáculo atingiu o seu auge. No primeiro,Swarming e Cutting Ice to Snow criaram dois belos momentos (ainda que, em Swarming, aquele violino que se ouve na versão em disco tenha feito bastante falta…), mesmo com a última a ser interpretada de forma algo desleixada, com vários momentos de silêncio, e o baterista/trompetista a entrar mal. Ainda assim, isso acaba por se perdoar perante o espírito aureal da canção que, ao vivo, saíu (quase) imune.
E, para terminar, Mirror Mirror. Bom final, mostrando aquela que é facilmente das melhores canções do último álbum a ser interpretada de forma energética, já com a banda em extâse perante a alegria de terem sido obrigados a fazer um segundo e inesperado encore, perante os pedidos incessantes do público. Fizeram uma vénia, saíram do palco, e o público saiu da sala com um sorriso na face.
Se o concerto não foi propriamente mau, também não foi propriamente bom. Não foi aborrecido, e certamente que ninguém há-de dar o tempo por perdido (os bilhetes nem eram muito caros…), mas também não foi consistente, eles como músicos não são grande espingarda, e os melhores momentos nunca foram além do “agradável” ou do apenas “bonito”. Não existiram grandes altos ao longo de todo o concerto, e apenas nos encores se sentiu alguma verdadeira ponta de originalidade e qualidade em tudo aquilo. O resto foi-se ouvindo, por vezes aquecendo, por vezes aquecendo, por vezes nem um nem outro, com cada canção a soar demasiado parecida à que lhe precedeu e a ser interpretada de forma nada impressionante.
Mas o público parece ter adorado, e isso é que interessa. As expectativas não pareciam ser particularmente altas (só mais perto do final é que o público se manifestou de forma verdadeiramente satisfeita, com tantas palmas e ruído que a banda lá teve de vir para mais um encore), e parecem ter tido aquilo que queriam. Quem esperava um concerto minimamente competente, foi isso o que teve (mas foi, de facto, mesmo ali no limiar daquilo que se pode chamar de “competência”…). Quem esperava algo mais que isso, certamente terá saído desiludido.
Esperemos que da próxima o espectáculo seja melhor e algo mais que apenas uma hora e meia minimamente bem passada. Para que tal aconteça, recomendam-se aulas de bateria, baixo, teclas, guitarra e etc aos seis membros da banda. Porque o que faltou foi, de facto, melhor música e melhores músicos. Afinal de contas, pôr em cima do palco vários instrumentos é fácil; usá-los bem, por seu lado, é que já é bem mais difícil.