Se, aos Silver Mt. Zion, retirarmos a Memorial Orchestra e a Tra-la-la Band, ficamos apenas os A Silver Mt. Zion – uma guitarra ou um piano acompanhado de voz, um violino e um contrabaixo. Se destes retirarmos ainda os instrumentos de arco, fica Efrim Manuel Menuck, conhecido não só por ser a bela voz de cana rachada dos canadianos, mas também por ser um dos mentores dos Godspeed You! Black Emperor. Será que alguém tem interesse em ouvir tão pouco, apenas Menuck? Ora, o que ninguém sabia é que este tão pouco é uma porção enorme de todas as bandas em que o autor de Plays “High Gospel” toca.

Efrim Menuck, na forma abreviada e não a solo do seu nome, é um utilizador nato dos efeitos analógicos e das captações em fita magnética, e é a partir da utilização destes mesmos meios que o seu primeiro álbum sem a companhia de mais ninguém se desenrola, num verdadeiro ensaio de psicadelismo vintage, com a sua voz bem em evidência, entre a beleza de repetições estranhas a desenrolarem-se em melodias e harmonias completamente inusitadas.

A estas regras, escapa-se a tão A Silver Mt. Zion heavy calls & hospital blues, triste como só o canadiano consegue cantar, sempre com o piano bem reverberado, agudo e seco a ecoar a melodia. Se a isso juntarmos a última I am no longer a motherless child, Plays “High Gospel” mostra-se um álbum aberto em perspectiva, construído através de um propósito simples de manipulação; a bateria dá-lhe a possibilidade de se poupar ao trabalho de inventar as batidas, como acontece na completamente drogada e fora de si a 12-pt. program for keep on keepin’on.

Plays “High Gospel” mostra um Efrim Manuel Menuck que alguns reconhecerão nos sons mais obscuros dos trabalhos em que se foi envolvendo, até nos últimos registos de Vic Chesnutt, para quem deixa as suas saudades (tão merecidas!) em kaddish for chesnutt. No seu primeiro disco a solo, está tudo em pratos limpos, à luz do dia e bem fora do armário. E ainda bem. Mais do que um álbum, é um registo de quase duas décadas a fazer alguma da melhor música da história recente – que eu saiba, a mais próxima de qualquer divindade que o homem já conheceu. A palavra do futuro pertence a senhores como este, e só deus sabe se lá estará para os receber.