Perante uma Coimbra virada do avesso, tomada de assalto pela população que faz as suas artérias pulsar, a Praça da Canção, transformada em queimódromo, recebeu os britânicos Editors no palco principal e, numa perspectiva nada secundária, o comício barcelense encabeçado pelos Glockenwise e pelos Black Bombaim, no Palco RUC.

Depois de revelados os planos para o futuro mais imediato em conferência de imprensa, principalmente a integração de músicas novas no alinhamento da actuação na Praça da Canção, os Editors entraram em palco com a vontade de enfrentar o ambiente peculiar que é o da Queima das Fitas. Apesar de se terem conhecido durante a frequência do ensino superior, em Birmingham, os ingleses admitiram que tudo a que tinham assistido até então na cidade dos estudantes lhes revelava um ambiente diferente do que estavam habituados, mas isso não os impediu de, logo na primeira metade do concerto, se terem dedicado a queimar os cartuchos mais sonantes.

Com efeito, os singles que os catapultaram para os tops, como An End Has A Start, ou o primeiríssimo Munich, ainda do EP com o mesmo nome, foram todos tocados na primeiríssima parte do concerto. Claro, não se põe de parte o single do primeiro álbum Camera, com que abriram as festividades, ou o inebriante Racing Rats, alternado com a nada menos bem conseguida Bullets. Percorridos irmamente os primeiros dois longa-duração, os ingleses dedicaram-se a explorar as passagens mais electrónicas, do álbum de 2009.

Mas mesmo o ambiente estranho em que se encontravam não impediu a banda de Tom Smith e Ed Lay de suarem as estopinhas e darem um óptimo espectáculo, principalmente devido à sua postura incomum em palco. Realmente, o vocalista Tom Smith e a sua postura esquisitíssima, de guitarra no queixo e a cambalear para trás, lideraram uma banda extremamente peculiar no palco, com o guitarrista Urbanowicz sempre tímido, principalmente quando comparado com o baixista Russel Leetch, que não consegue manter-se quieto. Na bateria, Lay não se pôde mexer muito, mas também não falhou no seu papel, revelando fulcral no feito de arrebatar uma multidão considerável.

Já por volta das duas horas da madrugada, os Glockenwise, que não se mostraram muito entusiasmados por falar à imprensa ao som dos Editors, subiram ao Palco RUC para dar a sua perspectiva daquilo que é o Rock Sem Merdas, muito abordado durante a conversa com os jornalistas. Aliás, género que dispensa apresentações por estes lados, mas que levou ao rubro as cerca de duas centenas de pessoas presentes – de início ainda se fizeram difíceis, mas quando o primeiro single Scumbag foi dedicado aos britânicos, que ainda actuavam no palco principal, já todo o espaço em frente ao estrado estava ocupado com uma boa multidão de entusiastas dançantes. Mas, da próxima vez que vir o quarteto minhoto, convido-os a escreverem uma rubrica no PA, dado que o nosso webzine já anda fartinho de os ver.

Convite que devo estender aos Black Bombaim, também, visto que o power-trio de Barcelos também já tem uma boa porção de concertos vistos no PA e, neste concerto em especial, procuraram não fazer nada de muito diferente e, logo na primeira música, já estavam a devastar o PA (não nós, mas os que metem som cá para fora – coisa que, pensando bem, nós também fazemos) com os seus riffs graves – ou gravíssimos, visto que o baixo estava especialmente gritante (obrigado, senhor do som, os meus tímpanos não agradecem, mas a minha cabecinha ficou feliz por não ter de ouvir a tenda do lado e o seu lixo tóxico). E se, ao início, se estranhava a potência minuciosa e repetitiva, natural dos Black Bombaim, no fim muito se cabeceava e cambaleava. Resta saber se graças ao consumo exagerado de álcool ou se graças à música. Pelo que me diz respeito, eu agradeço aos barcelenses, visto que me deram a injecção de adrenalina necessária para conduzir até casa.