Não se ouvia uma miúda rimar assim desde Jean Grae Dynasty, Ya Girl Dy – da new school novaiorquina para os palcos europeus. A afirmação não se reduz ao rap no seu sentido puramente técnico, mas em todos os seus sentidos; aí reside a diferença entre mandar umas boas barras e ser de facto MC.

Às 22h, à porta da ZDB, nada. No interior idem: mas não é razão para alarme, esta é, afinal, uma noite de hip hop. Não há aqui qualquer crítica subjacente, é mesmo assim, qualquer experiência entre rap e pontualidade será certamente um equívoco. Dentro do aquário, um solitário DJ vai avançando e regredindo cronologicamente em clássicos. O tempo suficiente para percorrer uma década de hip hop, ou mais. A chegada de convivas foi tão gradual que nem se deu por ela, passava já das 23H quando se começa a entrar generalizadamente no aquário, até então apenas alvo de entradas rápidas. Não foi logo mas não demorou muito mais: Dynasty entrou sem qualquer suspense, sorridente e extrovertida, ironiza com a malta evocando a sua estatura, para que esta se chegue à frente.

Impressionante quando começa. Aquela rapariga franzina e simpática, deixa rappers de barba rija completamente de calças na mão. Ela diz no refrão que não é feminismo matar MCs. No fim contínua conversadora, fala das constantes subidas de Lisboa, saudando-nos pelo esforço.

E desmascara-se: “Yes, I’m a new yorker, I talk too much”; de seguida convida a plateia a ser magnífica e, seguindo essa linha de actuação, ataca “Magnificent”. A comicidade na interacção entre o aquário e os transeuntes da Rua da Rosa nunca se tornará obsoleta, Dy estava encantada. Mas sério se torna quando chega “Epic Dynasty”: dei por mim totalmente aparvalhado ao ver Dynasty domar primo style, assim, rédea curta, como se nada fosse.

Dynasty é uma rapariga invulgar. Transforma-se: extrovertida e simpática ao máximo, quando se trata de flow e batida, implacável. Sem esforço criou empatia, com os mais chegados à frente trocou mesmo algumas piadas. Poderia ser descrita como bipolar mas ela assume-se antes como tripolar: desta feita revela-nos a sua vertente de escrita mais íntima e sentimental com Forgive; para depois rematar num egotripping feroz, por cima de um beat possante, em “SupaDinasty”. Na hora da despedida há a sensação que foi pouco mas recordemo-nos que Dynasty é um fenómeno recente, e ao contrário da maioria dos fenómenos, tem todo o mérito. Para comprová-lo bastaria ter a voz gravada por cima de um beat de DJ Premier, mas ela também já rimou com Talib Kweli, e é Stay Shinnin’ que encerra, com classe, a primeira visita de Dynasty, Ya Girl Dy ao Bairro Alto.