É outro daqueles ocos entardeceres cor-de-ferrugem. O sol abespinha-se na janela do overground como um drogado à cata de trocos para a noite que aí vem, Camden respira por dois pulmões de cimento e lança-me olhares de nojo. O casaco de ganga, o meu casaco de ganga, esconde como um segredo de criança, (shhh), um saquinho de erva, Strawberry Cough para os interessados, trespassada pelas mãos sacrificadas de um dealer samoano que vive em Londres desde os doze. Vai a meio e esta foi só a nossa primeira tarde juntos, transporto, como os Gorillaz, a luz dentro de um saquinho.
As perguntas sucedem-se em micro flashes, micro frames, estiveram estes carris sempre aqui, gargantas inox amontoadas em curvas escolióticas de sedimentos milenares?, que tipo de felicidade existencial pode um maquinista alcançar?, e um pica?, há picas no overground?, venho poucas vezes a Londres e são mais do que aquelas de que gostaria, as grandes cidades cheiram a sebo e insónias.
Encaro-me à janela, e estas são as minhas feições assimétricas, os pintelhos loiros que me nascem no queixo como caliopsis raquíticas de depressão, e lá consigo chamar a isto barba?, não tenho coragem, a boca resseca-se numa tensão copular entre o ar condicionado que rrrrrregurgita érre abafado atrás de érre abafado e um sol que se vai apagando como um moribundo vietcongue de vísceras laranjas oferecidas num pratinho bordeaux às gordas larvas de Ho Chi Minh. Os meus olhos, quais papoilas-morfina de uma guerra em mute, embaralham-se nas trincheiras deste supositório fermentado a botões e mapas que cozem linhas multicolor numa suruba de caminhos-de-ferro em pelota, e o destino que não chega, e os decotes turísticos de duas bávaras sorridentes que preferem sandálias a ténis, e os fones que me protegem do galgar constante dos quilómetros, do abrir e fechar de portas, da gravação de voz automática que proclama no mesmo comprimento de onda Brondesbury Park, Brondesbury, Kensal Rise, é como se ela adorasse cada recanto de Londres com o mesmo apetite primário de um cãozinho que escuta ao longe, a duas assoalhadas de distância, o saco de Eukanuba. Tenho fome.