Uma cave bêbada de suor – encontrem melhor definição para o rock. Com a urgência dos loucos, de polegares arranhados pela raiva, engolem os Dope Body aquele Cais do Sodré encharcado de bolor. Cospem-nos a côdea, levam-nos o miolo, batem os maxilares num protesto de adrenalina que só eles, no Sabotage, parecem ter. É físico, é como andar à porrada sem sair do sítio, comer no lombo de um brutamontes que se desfaz por quatro cabeças. O vocalista arrasta-se pelo chão como um novelo de carne ao léu, de pulmões gordos pelo charro que lhe metem na mão. Mas ele quer mais. Quer que o empurrem, que o esganem, que lhe façam rugas de pânico no peito e que lhe traduzam danger para português. Ninguém arrisca. Somos tímidos. Tem de vir o merch guy empurrá-lo, tombá-lo pelas pernas num assomo greco-romano em ringue punk, para que haja confronto. E o rock doente de Dope Body, gritado nos limites que o decibel autoriza, só acontece na lâmina do perigo súbito. O baterista – excepcional, a propósito – esbofeteia a loiça, grasna ritmo para que o ruído, o tal noise onde todos parecemos filhotes desmamados pela teta dos Swans, arraste aquele Sabotage para a lama definitiva dos desalinhados até ao último estalo.