Dope Body - "Kunk"
8.5Drag City

A beleza do noise passa por transcrever a insuportável platitude do quotidiano, o chuveiro que silva, o autoclismo que gorgoleja, a chávena que transborda numa diarreia cafeínica, a porta que guincha por um cachimbo de ferrugem nas nalgas, o telemóvel que pálido se escapa do bolso a pedir só mais uma dose de electricidade, é a última, prometo, ajuda-me lá mano, eu depois largo esta merda, tou-te a dizer, largo mesmo, já prometi à Cláudia e tudo, é desta, e a gente espeta-lhe o fio nas bordas como quem espeta morfina coreana num aleijadinho que só convive com o dente que lhe sobra, toma lá, não te quero ver mais à minha frente, e a carteira de ganga atulhada de cartões sem privilégio mostra-me que estou no final do mês, e há tanta merda para pagar, e tanto funcionário público para contornar, o alumínio urbano brilha de chuva num final de tarde hostil, pinga-se num ping, ping, ping, ping, pi…ng eterno que me acerta no escalpe, são 7:47, não tenho nada no frigorífico, rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr, estores escondidos fecham-se numa prosa monocórdica, os Dope Body são o Frankstein da vulgaridade em transmissão morse.