Destruction Unit - "Negative Feedback Resistor"
8.5Sacred Bones

Lembro-me de que as pernas dela sabiam a terror salgado, pelo fundo corria um bando de gordos carrancudos a trote da agonia, e estávamos os dois diluídos nos nossos próprios roucos de miséria, empoleirados numa varanda de rés-do-chão que acabava entre falsas bengalas de tijolo. Vinham-me aos olhos um sabor a amargo, como se tivesse a própria morte entalada nas pestanas e as gengivas numa valsa autofágica. Naquele momento eu era hóspede de mim mesmo e de outro alguém que me subia pela garganta, lascando-me em bocadinhos para dentro de um copo calvo como se a minha pele pudesse ser trinchada em pedaços de artesanato e éter. Lembro-me de que as pernas dela reflectiam uma noite onde os parágrafos se faziam pelos táxis que apareciam aos bochechos feitos pirilampos gaseados pelo alcatrão e, nos espaços de silêncio, havia um baque meio surdo que nos despertava um formigueiro das virilhas às têmporas, como se aquela madrugava se preocupasse em destrancar-nos de um estado pré-cadáver que nenhum de nós sabia bem como tinha começado, aproximava-se um ruído semimítico com sabor a ferro, crescia numa progressão banzadamente aritmética qual órfão desmamado ao abandono, e uma conspiração amplificada de gabardina laranja vinha lá ao fundo que nem um batalhão revolucionário pro-desordem, a cada passo uma fuligem prateada subia pelos braços daquela atmosfera húmida – arrepio – e já lhes sentíamos os queixos no ar, as guitarras de busto violento, os gritos alcoólicos, e ela continuava de pernas ao relento como se lhes pudesse sobreviver à embolia do ruído enquanto eles chegavam, chegavam, chegavam ao ritmo desconfiado de quem procura violência por gosto, eram os Destruction Unit e era hora de gritar.