Dan Bejar, com o mote “Five Spanish Songs”, o seu novo EP, a pesar-lhe nos ombros, aventurou-se apenas com guitarra pelo mundo de Destroyer, num dos concertos de celebração do sétimo aniversário do MusicBox Lisboa. Sabendo por onde o último longa-duração, decadente, dançável e electrificado com sintetizadores, levou o projecto do também membro dos New Pornographers, ao ponto de ebulição do sonho pop, com os arranjos a representarem grande parte da essência do álbum, Bejar pôs à prova o seu cancioneiro — músicas como “Kaputt”, “Song for America” ou “Savage Night at The Opera” tresandam ao suor dopado da disco, com o toque da pop dos 80s. Não foram precisos truques. O músico de Vancouver passou o teste apenas com o ordinário.

Enquanto singer-songwriter, parco em palavras, atirou-se a um longo alinhamento, percorrendo a sua discografia e instalando numa sala normalmente irrequieta um silêncio digno de anfiteatro, convidando ao fechar de olhos e ao assento, e embalando com a voz a audiência, acordada em sobressalto pelo silêncio abrupto que interrompia cada canção. Ainda que solitário no palco, Bejarconseguiu transformar o MusicBox mais convidativo à rave de “Kaputt” num espaço primaveril, perfeito para um jamboree — ajudaram à imaginação as imagens florestais que foram preenchendo a parede por detrás do canadiano.

Circulada a imagética das canções à volta da fogueira, com o público na mão, deu-se o flirt com o castelhano através do mais recente registo, cantou-se “Bye Bye” e “Maria de las Nieves” e assumiu-se desde logo que essas seriam músicas “cantadas numa língua que não [compreende] e de cujo significado não tem a certeza” (parafraseie-se as suas palavras) sem comprometer no resultado final — previsto que estava o falhanço à partida (“I will probably fuck it up”). O ambiente de meia-luz, meio-gás e de completa intimidade seria quebrado pelos picos de intensidade de “Downtown” e “Chinatown”, a que nem mesmo “Savage Night at the Opera” e “Don’t Become the Thing you Hated”, combo final, chegaram. O encore ficou, contudo, justificado na mesma.

A proeza de se ser um bom escritor de canções não é um feito ao alcanse de qualquer artista pop. Há os que dependem de tudo o que vestem, de cada pormenor de produção,  para se impor, masBejar, despido de truques, demonstrou a validade de cada música tocada, dando fôlego a escritos que, à partida, pediam os ilusionismos todos da pop. A guitarra e voz chegaram para levar o concerto ao colo. Aprecie-se a sua arte e anseie-se por um regresso com todos os truques — há cartas na manga deDestroyer.