Sexta-feira com boa música na Zé dos Bois, naquela que prometia ser a melhor forma de terminar a semana. Angel Deradoorian (vocalista dos Dirty Projectors) e Laurel Halo eram o double-bill da noite; a primeira com a sua música calma e suave, e a segunda com a sua pop experimental (que, ao vivo, ganha novos contornos). A noite era das mulheres.
Deradoorian foi a primeira, entrando em palco com mais um baterista e uma baixista, num vestido branco curto e leve, com um aspecto… bem, angelical. Têm alguns problemas com o baixo, e Deradoorian é obrigada a abandonar o teclado para ir ver o que se passa. Não tarda muito a que tudo estivesse pronto, e a banda atira-se a Moon, a lindíssima canção de Moon Raft, o seu EP. A palavra lindíssima é, aliás, a que melhor descreve a curta mas consistente actuação. A baixista toca com um sorriso na cara, o baterista (com a bateria um pouco alta demais) faz um ocasional suave head-banging enquanto complementa na perfeição as canções com o seu trabalho, e Angel canta como se realmente dum anjo se tratasse, de olhos frequentemente fechados e sem olhar muito para o público (“Não somos muito bons a falar”, diz a certa altura) sem ser para agradecer, por trás do teclado com guitarra aos ombros. Deradoorian é simplesmente Deradoorian, e os dois que a acompanham são francamente competentes.
Canções sempre suaves, sempre belas, que embalam e cativam, sempre com simpáticos aplausos por parte de uma sala composta. Ao vivo tudo soa mais despido, claro, mas isso acaba por tornar as canções mais directas e até mais efectivas. Save You, por exemplo, é simplesmente mágica e triste, e Holding Pattern e High Road (esta em particular, a terminar com a banda num adorável head-banging e Deradoorian em modo quase rock a usar ao máximo a guitarra) mantêm ao vivo a beleza que têm em disco, mas com uma energia que nesse registo não possuíam. E aquele teclado, aquele teclado…
Coube à longa, calma, melódica e arrebatadoramente belaSupreme Absolute pôr termo à actuação. Está tudo naquele teclado e naquela voz, que deita o coração cá para fora e chega facilmente ao nosso. Tudo. E quando no final ele deixa de ser tocado e ela deixa de cantar, fica-se com a pena de não se ouvir mais. Deradoorian e a banda despedem-se com um sorriso sincero, tanto quanto os aplausos recebidos de um público também sorridente. Que volte rapidamente.
De seguida, veio Laurel Halo. Sozinha em palco, vestida de forma colorida, com uma enorme mesa de mistura à frente, começou logo por dedicar o concerto ao suposto fim-do-mundo que viria no dia a seguir (spoiler: NÃO ACONTECEU NADA), com uma simpatia encantadora. Só voltaria a abrir a boca no fim da sua actuação. Se em disco a sua música pode ser chamada de pop experimental e audaz, ao vivo Halo dedica-se mais ao que se pode chamar de electrónica (lembra o Panda Bear em mais que uma ocasião). Muitos samples (os de voz são muito, muito irritantes), muitos efeitos, muitas camadas de som que se vão acumulando num set sem paragens. O problema é que, na exploração que faz, acaba por ser apenas genérica, muito abaixo dos maiores do género, ficando-se apenas por alguns momentos de interesse. O público (menor que em Deradoorian) também não reagiu com particular entusiasmo, apenas movendo ocasionalmente o corpo, aplaudindo no final de uma actuação que em nada impressionou (mas que, diga-se, também não foi tempo desperdiçado…).
No final, Halo despede-se com um sorriso na face e uma simpatia notável. “Não morram amanhã!”, diz ela, fazendo rir os presentes. Não morremos, não. Mas, caso tivéssemos morrido, a última noite teria sido francamente boa. Mais pela rapariga que canta com o coração que com a que faz música pelas máquinas, diga-se.