O título deste disco é um strike. Não só concede ao trabalho um sublinhado exótico, como faz todo o sentido semântico. Depois de nos obrigar a uma ida ao Google – pelo menos àqueles não familiarizados com as expressões idiomáticas japonesas -, entendemos que “koi no yokan” significa, mais coisa menos coisa, promessa de amor. Um pouco o oposto do nosso tão versado amor à primeira vista. O sétimo álbum dos Deftones transcreve-se tão bem nesse ditado nipónico: sabemos que nos vamos apaixonar por ele. O que não sabemos é quando.
Depois da tragédia de 2008, que atirou o baixista Chi Cheng para um irresolúvel estado de coma, os Deftones conseguiram reerguer-se e lançar um categórico Diamond Eyes. Com ele, não só renasceram das cinzas, como se revitalizaram de um período que parecia estar a levá-los para um limbo artístico incerto –Saturday Night Wrist é, ainda, o seu disco menos consensual. Mas o que representa, afinal, esse Diamond Eyes, dois anos depois? Somente um comovido e rangente grito de revolta pelo sucedido a Cheng?
Não. Diamond Eyes foi o recentrar dos Deftones e o que o confirma é… Koi No Yokan. Pegando na eterna mescla que tão bem caracteriza o seu som único, i.e., um Chino Moreno eternamente embevecido pela melodia e a imponência dos gravitacionais e pesados riffs de Stephen Carpenter, o grupo de Sacramento aprimora agora aquela que é a sua melhor fase de carreira pós-White Pony. Koi No Yokan soa pleno – provavelmente, este é disco onde as transições estão melhor delineadas, vide a ligação da upbeat Swerve City com a melancólica Romantic Dreams ou a da Duran-Duranesca Graphic Nature com a rainhaTempest.
Conseguem com que um álbum claramente polarizado transpareça uniformidade: Poltergeist traz aquela belicosa abordagem de Elite, sucedendo-lhe Entombed que suavemente nos atira para o espaço dreamy de uma Digital Bath ou da mais recente Sextape. Em somente oito minutos, vamos de uma ponta à outra do espectro dos Deftones e nada se revela injustificado ou deslocado do feeling lato do álbum. Há uma implícita atmosfera, há uma gritante alma que parecia estar sorrateiramente escondida até em Diamond Eyes – disco que se concentrou redobradamente no lado mais agressivo.
Este Koi No Yokan está liberto, solto. Não há vestígios de cansaço ou falta de pachorra, algo que tantas vezes ataca quem na ribalta anda anos a fio. Os Deftones quiseram, de facto, fazer um disco em 2012 e o resultado é um clássico “koi no yokan”. Um clássico não imediato.