Os Dead Combo são de todo o lado. Ou de lado nenhum. Ou de um espaço que é só deles. Já viajaram pelas raízes portuguesas, pelo farwest americano, pelo mariachi, por Cuba, pela magia africana ou por outras paragens imaginárias. Continuam a divagar em “A Bunch Of Meninos”, quinto disco de originais, mas teimam em manter um foco coeso, um olhar que os define e que os torna (quase) inconfundíveis.

Novo disco, nova diversidade q.b., guiadamaioritariamente pelo habitual dueto de guitarras (clássica ou eléctrica) ou guitarra-contrabaixo. “Povo Que Cais Descalço” respira fatalismo português pelos poros, “Arraia” tem o tom solene e quase marcial da caixa (percussão), “Miúdas e Motas” é surf por todo o lado e “Dos Rios” é banda-sonora de um encontro vibrante entre dois bairros de Sevilha e Lisboa. E dancemos com os cocktails cosmopolitas presentes em “A Bunch Of Meninos” (tema) e “Dona Emília.

Ao contrário de “Lisboa Mulata”, que, num tema, incluía a declamação de Camané, não há convidados vocais de peso e o disco é quase 100% instrumental. Para além de Tó Trips e Pedro Gonçalves, “A Bunch Of Meninos”conta apenas com as presenças na percussão de Alexandre Frazão (novamente) e António Serginho. Não havendo palavras nos temas, estas cingem-se aos curiosos títulos. Há as homenagens ao B.Leza (espaço africano de Lisboa) ou a Tom Waits, de quem a banda costuma tocar “Temptation”. Há algumas referências políticas, com destaque para “Mr. Snowden’s Dream”, com um xilofone fúnebre profundamente irónico, qual balada negra de Leonard Cohen. E, enfim, há um “Hawaii Em Chelas” que fala por si.

Comparando com o disco anterior, é possível que não haja aqui momentos tão fortes como o frenesim dançável de “Lisboa Mulata” (apesar de “Dona Emília”) ou a saudade e melancolia arrepiantes de “Esse Olhar Que Era Só Teu” (apesar de “Povo Que Cais Descalço”), dois dos grandes monumentos musicais de 2011 (globalmente falando e não apenas neste pequeno rectângulo). Mas, não tenhamos dúvidas, “A Bunch Of Meninos” contém treze grandes canções. Isso mesmo, treze grandes canções instrumentais em qualquer parte do Mundo. Ou em paradeiro desconhecido.