Impacientes, estavam poucos na sala. Se calhar estavam alguns na rua, a fumar os seus cigarros: afinal, Damo Suzuki só vem a Portugal de dois em dois anos e, até agora, fê-lo sempre com projectos diferentes. Desta vez a árdua tarefa de dar música à voz do lendário nipónico foi incumbida aos Loosers – e eles mostraram-se à altura, numa Jam de hora e meia bem progressiva e psicadélica.
Eram as 23h30 quando os Loosers acompanhados do seu sensei subiram ao palco e se depararam com os poucos que esperavam no “aquário” de concertos da Galeria Zé dos Bois. Damo Suzukiapoderou-se do microfone e declarou o início da cerimónia: “Nós vamos começar, venham para dentro!” Respondeu a banda portuguesa que começou de imediato a tocar e respondeu o público que rapidamente deixou a sala bem composta. Então, a aura do nipónico faz-se sentir de imediato, enchendo a sala com uma voz rouca e possante, às vezes mais limpa e menos monstruosa – mas sempre possante, sempre presente, mesmo nos momentos em que se calava. Uma aura que só se desvaneceu com a sua simpatia depois do encore de mais ou menos meia hora com que brindou os presentes – parecia que tinha abandonado o seu monstro na música.
De Damo Suzuki não se podia esperar menos: as suas palavras apoderavam-se da música nos momentos certos; era bem gritada e melhor sussurrada. A sua presença impunha-se numa Jam que, nos problemas do improviso, teve os seus pontos baixos, ainda que suplantados pelos imensos altos – naturalmente, houve momentos em que os músicos se procuraram uns aos outros, dentro da amalgama de som; houve momentos em que preferiram perder-se. É louvável os Loosers conseguirem manter uma Jam Session durante uma hora e outra durante trinta minutos, principalmente se o fazem de forma a soar quase sempre bem (dentro dos parâmetros de bem no Rock Progressivo e Psicadélico) e longe das regras típicas do Jazz. Em 2010 impõe-se um regresso de Damo Suzuki para mais uma experiência única; este é um mestre que vagueia há 30 anos na música e se recusa a cair no esquecimento