“You are hurt all over, but can’t feel a thing, not until the next day. Then you wake up, stiff as a board, and the pain won’t go away.” Dificilmente a letra de Thrashard dos D.R.I. poderia ser melhor exemplificativa daquilo que terá sido o início de sábado para muitos dos que estiveram no dia anterior no Revolver. Quase duas horas de concerto dos americanos provocaram um motim incessante, que decerto terá deixado marcas na musculatura daqueles que se aventuraram pelo violento e contínuo moshpit. Uma noite memorável, onde o travo old school enxaguou as paredes de um Revolver onde dificilmente caberia mais alguém.
Os membros dos Dirty Rotten Imbeciles caminham para os cinquenta anos. Não fossem já alguns cabelos brancos e ninguém se lembraria disso, provavelmente; até porque, mal o concerto começou, ao som de Beneath the Wheel, deu para perceber que aquele ímpeto dos anos 80 continua firme e capaz de colocar uma sala de pantanas. A plateia, carregada de gente que certamente marcou partir a sala toda, até porque, quando voltarmos para os EUA, queremos recordar-vos dessa forma.”
E não há dúvida que o público fez o melhor que pôde para corresponder ao pedido de Kurt Brecht. Para isso, muito terá contribuído a passagem do concerto para o Revolver, ele que estava inicialmente previsto para o Cine-Teatro de Corroios. O espaço intimista, a pouca diferença de altura entre o palco e a plateia e a proximidade entre a banda e o público aumentou drasticamente a intensidade da actuação dos californianos, que contou com um som de grande qualidade ao longo dos quase 120 minutos de gig.
Tirando os problemas com o amplificador do baixo de Harald Oimoen – que provocaram uma pausa de quase cinco minutos a meio do concerto – e os constantes tropeções dos stages divers nos fios e no setlist da banda, nada impediu os Dirty Rotten Imbeciles de instaurarem um violento arraial crossover, fomentado por faixas como Acid Rain, Madman, Who Am I?, I’d Rather Be Sleeping e a clássica I Don’t Need Society. Para o encore, ficou guardada Violent Pacification, que foi pedida pelo público sonora e repetidamente, levando o guitarrista Spike Cassidy a filmar os cânticos e The Five Year Plan, que encerrou a noite, já perto da uma e meia da manhã.
Quem der uma olhadela pelos vídeos de D.R.I. ao vivo, no último ano, nas mais distintas cidades e países do globo dificilmente ficará com uma ideia do que ontem se passou em Cacilhas. A maioria das plateias que recebe os americanos é, sem dúvida, efusiva. Contudo, quem esteve no Revolver elevou a parada para um nível difícil de igualar.
A abrir estiveram três bandas portuguesas. Apesar de os jovens Pussy Hole Treatment terem a abordagem musical mais próxima de D.R.I. de entre as bandas seleccionadas para o cartaz, o grupo actuou ainda para uma sala a meio gás e pouco atenta ao concerto dos lisboetas, que cumpriram os serviços mínimos expectáveis para alguém que tem de iniciar o serão.
Já os Switchtense pegaram em toda a sua experiência e receberam as primeiras ovações da noite. Aproveitando a oportunidade para publicitar Switchtense, segundo álbum da banda que sairá no próximo dia 9 de Maio, e o Moita Metal Fest (festival que organizam), o quinteto proporcionou meia hora de thrash groovado que conta já com vários seguidores. “Se me dissessem, quando era puto, que um dia iria abrir para D.R.I., não acreditaria”, disse o vocalista, antes de se despedir do Revolver.
Os Simbiose, velhas raposas do crust/death nacional, tiveram direito a outra meia hora, onde colocaram ao dispor dos presentes todo o seu arsenal de crítica social e política, apresentado sobre uma estrutura sonora abrasiva, com atenção para Fake Dimension (2009) e para o criticamente aplaudido Evolution? (2007). É verdade que sem o Hugo a partilhar a voz com o João – agora é o André (ex-Blacksunrise) que tem essa função -, os Simbiose encontram-se num estado de transição, sofrendo um pouco em comparação com aquilo que outrora foram. À parte disso, conseguem manter um ritmo veemente ao vivo e proporcionaram um concerto competente.