Movimentos lascivos, ondulação carnal, olhos arregalados, um baixo vibrante que nos desaperta os atacadores. O cenário avermelhado alude ao seu último single,” Infrared”, com um triângulo insuflável no meio do palco enchido a motor eléctrico. Um DJ inicia as hostes com beats electrizados que nos mandam ar para as canelas acaloradas – cada vez mais – à medida da enchente.
A afluência afigurou-se quase lotada, contrariando expectativas de intelectualidades premeditadas e irrevogáveis à sala. Gays e lésbicas exibem os seus sorrisos e mãos entrelaçadas e dançantes. Rapazes tentam acompanhar o regozijo das cônjuges com as músicas repletas de sexualidade e imposição feminina, esforçando-se para não se concentrarem demasiado nos atributos volumosos de Dawn Richards e da sua dançarina no processo. Mulheres enxutas abanando-se freneticamente, cantando e evocando a sua identidade corpórea, rapazes tímidos tentando a sua sorte através de olhares furtivos a todo o perímetro da plateia, efusiva e maioritariamente feminina.
Foi uma hora, sessenta minutos intensos, de suor, adrenalina, acutilância hormonal, ondas sanguíneas fortes, tensão sexual. Uma descarga, um desabafo contundente e eficaz. Contenho um vómito ao recordar a alusão do nome de uma estrela pop à frase que virou slogan da revolução liberal francesa. Agarro-me à sensação que deixou o concerto de Dawn Richards, que não parece ter nem almejar tal pretensiosismo, e também não rima a favor.