Quando em Abril de 2010 encontrei o Kirk Windstein, ele garantiu-me que o novo de Crowbar iria ser mais um pedregulho sonoro – isto enquanto mandava abaixo mais uma imperial no bar do Cine-Teatro de Corroios. Não costumo duvidar de pessoas cujo aspecto se assemelha a um pródigo ancião em ácidos, muito menos se estas tiverem um legado musical onde se inserem álbuns como Odd Fellows Rest (1998) eBroken Glass (1996), dois pilares discográficos essenciais numa colectânea de doom/sludge que se preze.

Sever the Wicked Hand aparece agora em 2011, seis anos depois de Lifesblood for the Downtrodden (2005). Isto porque Windstein não se limita aos Crowbar – apesar de esta ser a sua banda principal, ele ainda faz parte dos Down e dos Kingdom of Sorrow, grupos que também pertencem à cena de New Orleans, claro está.
Este álbum, o nono da discografia, revela os predicados daquilo que sempre foram, e continuam a ser, os Crowbar: (muito) peso, criado a partir das guitarras low-tuned (mas com uma afinação tipicamente do Louisiana, a arranhar o blues) e de uma composição lenta e arrastada, que é constantemente intercalada por ásperas acelerações – basta ouvir as duas primeiras faixas Isolation (Desperation) e Sever the Wicked Hand para se perceber que os Crowbar se mantêm fiéis à sua estrutura basilar.

Mas não se pense que o disco é apenas um “filler” na carreira da banda. A verdade é que, sendo este projecto bastante concentrado na figura de Kirk, os restantes elementos vão entrando e saindo com o decorrer dos anos. Tommy Buckley, baterista dos Soilent Green, tem neste disco a sua estreia, tal como o baixista Patrick Bruders e o guitarrista Matthew Brunson. É irrefutável a excelente contribuição que Buckley oferece neste Sever the Wicked Hand, músico habituado à rapidez e destreza que o grindcore sludgy dos Soilent Green exige, algo ilustrado na portentosa As I Become One – faixa que contém, pelo meio, uma secção melódica de excelente efeito, onde as guitarras fazem recordar a harmonia de uma Remember Tomorrowdos Iron Maiden ou uma To Live Is To Die dos Metallica – e em I Only Deal In Truth. Provavelmente, Tommy Buckley será o baterista mais completo daqueles que já passaram por Crowbar.

Há ainda espaço para um pedaço instrumental, intitulado a A Farewell To Misery, onde se pode encontrar até um piano, colocado entre acordes de guitarra taciturnos e um arranjo vocálico próximo de um canto gregoriano, condimentos pouco comuns naquilo que costuma ser um disco destes sulistas.

Desta vez, as letras de Kirk também vão um pouco além das temáticas que usualmente abordavam. Se no passado se restringiam aos problemas pessoais, à depressão e aos mais variados obstáculos que a vida colocou diante do vocalista/guitarrista dos Crowbar, agora parecem abrir uma nova perspectiva, apresentando um sentimento de superação em relação ao passado, sem nunca esquecer aqueles que já partiram – outro assunto recorrentemente trazido à tona por Windstein, que continua com o seu registo vocal ruidoso e agressivo.

Em resumo, um álbum sólido, que não só não embaraça como enriquece a carreira da banda. Sever the Wicked Hand não é algo “groundbreaking”, nem algo que renove por completo a identidade musical do grupo. Acima de tudo é Crowbar, com o seu bom, clássico e distinto som, agora criado com base nas qualidades dos novos membros.