Se há dois anos os Crippled Black Phoenix editavam em I, Vigilante um conjunto de canções que eram anteriores ao duploThe Resurrectionists/ Night Raider, desta feita, (Mankind) The Crafty Ape, demonstra que o período de pausa, que serviu para a maturação de ideias para este novo disco, foi profícuo e que o amadurecimento de conceitos acabou por tornar o som dos britânicos mais consistente e, se ainda fosse possível, mais grandioso.
Não são necessários muitos minutos de audição para se constatar a superioridade deste disco e para recordar como poderia soar uma reprodução moderna do The Dark Side of The Moon. Sente-se uma enorme aura Pink Floyd neste álbum, acentuado pelos sons transmitidos pelas guitarras, mas também pela suavidade das vozes. Portanto, feita a heresia transmitida pela comparação, que me perdoem David Gilmour e Roger Waters, mas (Mankind) The Crafty Ape ainda soa mais majestoso do que o disco de 1973. Se, nessa época, acredito que muitos pais tenham sentado os seus filhos junto ao leitor e colocado a agulha sobre o vinyl para escuta, de modo a converter os seus entes queridos, consigo conceber que este disco seja utilizado para semelhante efeito, ou seja, uma forma de evangelização musical.
Ao anunciarem a temática conceptual, baseada na declamação das injustiças cometidas por parte da sociedade actual, os britânicos, ao articularem todos os instrumentos com os variados tipos de vocalizações de Joe Volk e Belinda Kordic, conferem uma constante sensação de experiências dicotómicas, jogando com emoções tão contraditórias como o desespero e a esperança, a intervenção mas também a pacificação ou o cáustico e visceral com a calma e a beleza. Assim, de forma orquestral, experimental, mas também épica, conseguem transmitir, através de um disco puramente sentimental e tocante, a ideia de que tudo está no seu local consagrado.
Passados vários anos desde os primeiros combates feitos com as armas de uma geração, a guitarra eléctrica e o microfone, os Crippled Black Phoenix demonstram que esses dois objectos associados a uma ainda maior concepção instrumental continuam a ser uma Importante forma de combate. Com um disco tão magistral, só resta afirmar: a vitória é vossa!