Portugal tem assistido ao crescimento imponente de uma pequena cidade. Antes tinha apenas galos, agora Barcelos tem bandas, bastantes e boas, e é um epicentro musical de vários géneros. Um destes géneros é o Stoner Rock, pouco enraizado por estes lados vê agora despontar vários fungos alucinogénios e psicadélicos, entre os quais, claro, estão os Cosmic Vishnu.

Muita uva e pouca parra – neste caso nenhuma. Neste caso, inverte-se a sabedoria popular em prol de um sentido mais óbvio: este duo, composto pela guitarra de Tiago Shiva e pela bateria de Veloso Brahma, não usa palavras. Instrumental, no máximo com algumas citações à moda do Post-Rock. É uma pequena banda, mas que tem momentos colossais neste EP.

A primeira música, Iron Ships on the Silver Sea, não é apenas uma boa iniciação ao trabalho dos Cosmic Vishnu, ponderada, balançada e com uma grande dose de psicadelismo; esta consegue colmatar aquele que à partida é o primeiro obstáculo da banda: subtrair-se do baixo num género como o Stoner, em que os graves têm um papel preponderante. Aliás, esse parece ser um problema ultrapassado sem grandes dificuldades pelo duo, visto que não se dá pela falta das baixas frequências, nem que seja através da sobreposição de guitarras – um ponto para a produção.

A faixa de abertura de Colossus Mountain consegue reunir e maximizar todos os momentos bons que se dispersam mais facilmente nas restantes duas músicas, estruturando os vários momentos da música de forma eficaz.

Temos momentos com o riff principal, pesado, mas com um sentido desértico, a ditar um forte balanço inteligentemente alternados com outros calmos, perfeitos para desfrutar os solos feitos nas mais graves cordas da guitarra.

As restantes faixas, mais esquizofrénicas, são mais inconstantes. A imprevisibilidade, nelas levada a um extremo, não permite aproveitar cada riff das músicas – matéria em que estes barcelenses aparentam estar particularmente bem. Há momentos óptimos, só que como todo não chegam à qualidade de Iron Ships in the Silver Sea, que, enquanto música de abertura do EP, sobe muito a fasquia.

Não restem dúvidas. As provas estão dadas e não há como negar que os Cosmic Vishnu têm armas para se defender no deserto de alucinações que nos pintam.

Este EP é disso uma pequena amostra. Resta esperar que num trabalho próximo, e de preferência de longa duração, a qualidade se mantenha, ou, preferencialmente, se exceda. Esta é uma banda que se aconselha ouvir com um casaco de cabedal (de soja, para os objectores de consciência) e numa mota bem oleada.