Tarefa árdua a de impedir os Comadre de atingerem um píncaro estilístico que os cospe borda fora da revivalista torrente screamo. Uma interminável fila de bandas, onde, claro, há uma mão cheia disposta a subverter convenções e a montar o seu próprio estaminé. Se por aqui recentemente falámos de como os The Black Heart Rebellion evoluíram para um animal selvagem de garras experimentais, convém por justiça referir o que são os Comadre em 2013.

Seguindo o espírito irreverente dos Ceremony em Zoo, estes norte-americanos têm no seu homónimo um trabalho que extrapola por completo os limites (se os há) do hardcore. Congregando influências tão distintas como o bluegrass ou o indie rock mais cru, a banda decidiu esculpir o seu quinto disco de originais com instrumentos como o piano ou a trompete, por completo imprevistos num trabalho do género. Não se julgue que o ADN dos Comadre se extinguiu, no entanto: é nas vísceras punk, tão cabalmente provadas na rasgada voz de Juan Gabe, que os homens de San Carlos atingem o seu ponto maior – escute-se a super catchy Cold Rain ou a irrequieta e (também orelhuda) Must Be Nice.

Toda a fúria e ira, tão latejantes na anatomia de discos como o inesquecível Burn Your Bones, estão aqui disseminadas através de um Juan incontrolável – e, apesar de sentirmos esses predicados, somos envoltos numa construção instrumental que tem tanto de atraente, como de “easy listening” comparada com os anteriores registos. É quase impossível escutar Storyteller e não nos lembrarmos dos Fucked Up e de todas as aventuras musicais por onde os canadianos se meteram ao longo da sua carreira.

Depois, há um pormenor incontornável: os Comadre fizeram tudo sozinhos. Produziram, gravaram, tocaram todos os instrumentos e trataram do artwork e da fotografia – DIY puro, num álbum que atesta uma bela verdade: não há nada mais punk do que fazer aquilo que dá na real gana. Até a Amy Winehouse ouvimos em Binge.