Foram mais de quatro os anos que Cécile Schott esteve afastada dos palcos e passaram mais de seis desde que editou um novo trabalho. Quando já nada fazia prever um regresso, algo que sóColleen – nome artístico – poderá explicar chamou-a de volta ao mundo da música. Em boa altura o fez.
Quando a francesa subiu ao palco e encontrou o seu espaço entre todas as pedaleiras que já lá se encontravam percebia-se que algo de especial estava prestes a acontecer. Só tivemos tempo de respirar fundo e subitamente, como se de uma hipnose ou feitiço se tratasse, fomos transportados para outros lugares. De olhos fechados a música de Colleen assoma-nos. Ouvimos ecos, dedilhados, loops sem fim… camadas e camadas de som cuidadosamente amontoadas umas sobre as outras resultando nalgumas das mais bonitas paisagens sonoras que já se ouviu.
A novidade, neste seu quinto disco – The Weighing Of The Heart – é a inclusão da voz em paisagens que, até aqui, haviam sido exclusivamente instrumentais. Sem quebrar o encantamento, as cordas vocais de Cécile produzem uma voz de uma sereia que, em vez de nos trazer de volta à realidade, arrasta-nos mais fundo neste seu oceano. Faz sentido esta referência mitológica pois de facto, há toda uma faceta mágica na música de Colleen. É verdade que se detectam-se aromas mediterrânicos e outros ares mais orientais, mas todas as canções estão envoltas numa aura misteriosa que as torna fruto de fantasia e não de um qualquer atlas poeirento. Ali o mundo sensorial leva a melhor sobre o racional e, mesmo que as suas canções tenham agora letras cantadas, continua a não haver uma narrativa sólida por trás das suas canções. É nesse estado fluído e etéreo que Colleen se sente em casa pelo que faz mais sentido comparar as suas canções a aguarelas submersas do que a poemas.
Completamente absorvidos pelo mundo mágico que se desvendava à nossa frente nem demos pelo tempo passar. Foi hipnose, só pode. Enfim… Talvez estejamos apenas deslumbrados, mas apenas somos capazes de apontar um defeito ao espectáculo – os longos períodos de preparação entre canções que inevitavelmente quebravam um pouco do encantamento. Apesar de tudo perdoamos-lhe essa falha. Aguardamos o tempo que for preciso. Afinal, toda a gente sabe que não se pode apressar a perfeição.