Com um pouco mais de dois anos passados sobre o mais recente registo discográfico, “Tales of a GrassWidow”, de 2013, as CocoRosie vieram não só apresentá-lo – porque não tocavam por cá desde 2011 – mas também levantar um pouco do véu sobre o novo disco que anunciaram para o Outono deste ano.

Infelizmente, não tocaram a maravilhosa “Hairnet Paradise” que, a fazer fé neste vídeo, aparecerá finalmente em disco, quase nove anos depois da gravação caseira ter sido carregada no YouTube. Há uma espécie de lamento dos fãs a cada novo álbum que não inclua esta canção, mas as preces foram, ao que tudo indica, finalmente ouvidas. Quanto às restantes quatro ou cinco canções que não estão em discos (embora algumas estejam em singles e, por isso, seja impossível prever quais estarão no próximo lançamento), pode dizer-se que funcionaram na perfeição, o que indicia que as manas não vão fugir ao seu registo freak.

Acompanhadas pelo beatboxer francês Tez (Vincent Garlantezec) e pelo japonês Tak (Takuya Nakamura) nos sintetizadores, piano e trompete, Bianca e Sierra apresentaram-se tão excêntricas como a música que fazem. Ambas traziam perucas meio-afro.Bianca (a da voz mais esganiçada; é assim que as distingo) usava meias de futebol até ao joelho, uns calções de pugilista e, por cima, uma espécie de t-shirt muito comprida ou vestido muito curto; tudo com um rigoroso desrespeito pelas regras de combinação de cores. Sierra (a da voz menos esganiçada / a que toca harpa) tinha óculos escuros e uma cheia de folhos meio kitsch.

Quando, a meio do concerto, houve um solo de beatbox do Tez, as manas desapareceram do palco e voltaram com nova indumentária: Bianca (a da voz esganiçada) trocou a t-shirt comprida / o vestido curto por uma espécie de top / soutien de desporto / bikini de velha branco com bolas vermelhas e trocou a peruca por um lenço na cabeça; Sierra trouxe uns calções dez números acima, cor de salmão, presos por uns suspensórios e também deixou a peruca no camarim. Sobre Tez há a dizer que é genial, mas que funciona muito melhor quando usa o seu talento para acompanhar a música. A solo, por muito impressionante que seja, não passa de uma masturbação das cordas vocais (categoria estranhamente ausente, até ver, dos sites da especialidade).

O concerto abriu com seis canções de “Tales Of A GrassWidow” e o alinhamento incluiria ainda mais duas faixas desse disco, mais à frente. Pelo meio houve sobretudo canções novas ou que aparecem apenas em singles, mas também algumas recuperações: duas de “Grey Oceans” (de 2010), “Werewolf”, uma das preferidas do público, que está no disco “The Adventures Of Ghosthorse And Stillborn” (de 2007) e a velhinha “K-Hole”, do segundo disco de CocoRosie, “Noah’s Ark” (2005). Só faltou ir buscar uma a “La Maison De Mon Rêve” (2004), que continua a ser o melhor disco que gravaram.

Quer Bianca, quer Sierra fizeram questão de passear frequentemente pelo palco, não apenas a dançar / cantar, mas também a mudar de instrumentos. Bianca passou mais tempo a cantar, com espaço para uns toques de rap a cappella, sempre com os seus brinquedos (literalmente) à mão para lançar sons de animais e afins e ainda deu uns toques no piano e numa flauta.Sierra tocou a sua harpa e o piano e cantou. Tak tocou sintetizadores, piano e trompete. Só Tez se manteve fiel à garganta, não se aventurando para lá do beatbox (nem quando trocou o seu boné por um lenço preto à assassino do “Assassin’s Creed”).

Além da dinâmica de palco, a banda ainda deu um passeio pelo corredor central do teatro, antes de desaparecerem todos para o solo de Tez. No encore, houve autorização para que as pessoas que já tinham sido chamadas para a frente do palco pudessem finalmente subir lá para cima e dançar com os artistas. Foi um final de festa bonito e o público, que não esgotou a sala apesar de a ter deixado bem composta, fez questão de manifestar o agrado ao fim de cada música. Resta-nos agora aguardar pelo anunciado disco e, quem sabe, uma visita daqui a não muito tempo para o mostrar.