Quando era mais puto, e não sabia onde pôr o walkman para andar de skate nas ruas da Amadora, sonhava ter uma banda tipo os Clean Girls. Não que os Clean Girls existissem nessa altura, e se existissem eu nem sequer os conheceria, mas aquelas tardes de verão a chisparem calor e a empurrarem autocarros, táxis e ambulâncias numa dança meio doente pelos subúrbios abaixo davam-me vontade de GRITAR. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHH. A permanente sensação de algo estar errado nasceu nesses carreiros diurnos de insatisfação e nunca mais desapareceu.
Mas de que vale esparramar-me ao comprido num divã de pensamentos abstractos quando, foda-se, há o real numa guitarra que berra e num microfone destripado que guincha e soluça?Clean Girls, miúdos. Um vagabundo de calções rotos que aponta na tua direcção, mas nem sequer te vê. Não olhes. Um noise de inverno, horizontal, o tempero e o tempo de cozedura perfeitos para qualquer cubículo que sobrevive com o salário mínimo. Os Clean Girls são o que os Fecal Matter poderiam ter sido se as reencarnações funcionassem e a voz ficasse para sempre sufocada no sebo das guitarras. É um punk sem back patches, sempins… só tem nódoas negras para a troca. Quantas queres? Diz lá.
Não me apetece é dizer mais nada. Disco do ano.