Os projectos de Ian Svenonius serão sempre sombras nos projectos de Dennis Lyxzén, ambos vocalistas e com projectos com semelhanças assombrosas. Para começar, os Refused fazem um último álbum a lembrar a primeira banda de Svenonius, The Nation Of Ulysses, seis anos depois desta acabar, misturando o Hardcore com o Jazz, e outras tantas ideias supostamente incompatíveis; depois surgem The (Internationl) Noise Conspiracy, cujo álbum de estreia lembra muito este In Mass Mind.
Até ver, os projectos de Lyxzén levaram a melhor no que toca à exploração dos géneros em que Svenonius foi pioneiro, mas convenhamos que o sueco sempre teve mais tempo para fazer tudo com muita classe. Mas The Make-Up não deixa de ser um marco, principalmente por estabelecer uma ponte que teimava em não ter alicerces fortes, entre o Punk-Hardcore e o Rock ‘n’ Roll; uma ponte que já os Jam tinham tentado construir.In Mass Mind reúne o bom de duas épocas diferentes, os anos 60 e os anos 80, mas cujo sentimento pela música é o mesmo: fazê-la o melhor que sabem só pelo prazer que isso representa, pelo acto de comunhão que é levar algum positivismo aos outros. Claro que as características base, e que tornam as diferenças de anos reais, estão presentes neste álbum – a sonoridade prende-se nos anos 60, mas a forma negra de pintar o mundo e de o criticar está nos anos 70 e 80, feita de uma forma directa e sem segundas intenções. É um álbum claramente político, tal como os Make-Up cuja ideologia o próprio Svenonius compara à da Internacional Situacionista e contra aquilo a que normalmente se associa no Rock ‘n’ Roll (machismo, capitalismo, excessos, etc.), e isso está estampado no título, que faz uma clara alusão à Sociedade do Espectáculo. Mas os Make-Up não carregam apenas más notícias e um mundo injusto; também levam consigo música boa, cheia de boa-disposição e leveza, capaz de fazer dançar qualquer um.
Enquadrar a sonoridade dos Make-Up numa década não chega para descrever a complexidade que encerra o minimalismo das suas músicas, com influências que vão desde os Beatles mais rasgados aos Doors mais populares; ou, pelo contrário, a década de 60 chega perfeitamente para descrever grande parte das influências deste grupo de Washington DC. Desde o Gospel ao Rock ‘n’ Roll nas suas mais variadas formas, com a atitude Punk em relação à composição, In Mass Mind quebra algumas barreiras sonoras enquadrando, por exemplo, algumas melodias mais psicadélicas na guitarra, desempenhando o baixo um papel mais proeminente nas músicas – a verdade é que o baixo é o instrumento que sobressai mais. Se o Rock é o género da guitarra eléctrica, isso é algo que Svenonius e companhia não fazem regra, pois o baixo não é menos indispensável neste registo, algo que o torna um álbum instrumentalmente mais equilibrado do que o Rock muitas vezes permite. Tanto temos uma música tipicamente Rock em que a guitarra tem espaço para liderar e fazer as melodias, que é o caso do single Live In The Rhythm Hive, como surge uma faixa em que o baixo é tudo o que é necessário na música, por exemplo Watch It With That Thing e os interlúdios Earth Worm.
Este é um registo que nenhum apreciador de Rock ‘n’ Roll pode ignorar, não só por encerrar a mais pura da sonoridade característica deste género mas por ser uma verdadeira mostra de como é que ele se faz com classe. E para apimentar uma boa receita nada como a atitude Punk de procurar fazer a diferença. Svenonius ainda acredita que pode “destruir” a América com a sua música; no mínimo é possível que a ponha a dançar enquanto algumas verdades escorregam para o mundo.