Com este tempo cinzento dos dias de Outono, apeteceu-me ir remexer no meu arquivo de discos, para encontrar a banda-sonora perfeita que combinasse com a melancolia do regresso ao frio e às folhas caídas na calçada. Nessa senda, encontrei Sketches For My Sweetheart, The Drunk e pareceu-me quase impossível que, em mais de dois anos de Ponto Alternativo, eu nunca me tivesse debruçado sobre o meu maior ídolo e influência musical: Jeff Buckley. Filho de Tim Buckley, o singer-songwriternorte-americano iniciou a sua carreira com Songs To No One, editado em parceria com Gary Lucas. Mas foi com Grace, em 1994, que Buckley-filho seria catapultado para o sucesso, ao fazer uma versão da Hallellujah – tema original de Leonard Cohen– capaz de fazer chorar a pedra mais pedra da calçada. Infelizmente, e como os bons têm sempre vida curta, Jeff Buckley faleceu em 1997, vítima de um acidente. No entanto, a sua obra perdura, com a edição de alguns temas inéditos e de concertos ao vivo, como é o caso de Mystery White Boy ou Live At Olympia.
Pouco tempo antes de desaparecer, Jeff Buckley estava a trabalhar no seu terceiro disco de originais: Sketches For My Sweetheart, The Drunk, que acabou por vir a ser editado um ano depois, em 1998, como obra póstuma. Talvez por isso, ou talvez porque, para muitos, a “madre-pérola” de Jeff Buckley se chame Grace, Sketches é, provavelmente, o disco mais subestimado do autor. Embora mantenha a linha musical de Grace – nas mensagens, na melancolia e, claro, nos vocais sempre reconhecíveis pelos falsetes -, Sketches é um disco mais completo, mais pessoal e, possivelmente, (ainda) mais emocional.
Com temas como Everybody Here Wants You, uma das canções de amor mais bonitas de sempre, que Buckley escreveu para a sua namorada da altura, Joan Wasser, mais conhecida como Joan As Police Woman – que, passou, recentemente, pelo Festival Sintra Misty, a 16 de Outubro – ou como Opened Once, uma verdadeira ode à solidão, Sketches For My Sweetheart, The Drunk é um trabalho para melómanos e adeptos de histórias românticas em forma de canção.
Jeff Buckley marcou o rock com as suas distorções apoteóticas e com os seus já referidos falsetes arrepiantes (Grace é o exemplo-maior disso). Vocalmente, a sua maneira de cantar é curiosa – chegam a haver gritos dissonantes – e sentida. Sketches torna-se, assim, um segundo capítulo de uma história demasiado curta. Vale a pena ouvir.