As bandas surgem cada vez mais em catadupa. Por baixo do nosso soalho, decerto encontraremos uma em formação, já com Myspace e duas ou três faixas demo. A fasquia tem baixado e com ela a exigência; a maioria das bandas cobre-se de pretensões e julga-se capaz de atingir rapidamente o estrelato. Mas quase sempre lhes falta o que Fall of Efrafa teve na medida certa: o verdadeiro amor à música, sentido-a como arte e como um veículo fortificado capaz de transportar uma mensagem.Porquê? Então cá vai uma breve descrição. Os Fall of Efrafa formaram-se em 2005, no Reino Unido, com um intuito claro: compor uma trilogia (de seu nome Warren of Snares) baseada na novela literária “Watership Down”, de Richard Adams. Essa trilogia seria dividida em três capítulos –Owslh, Elil e Inlé. A história, sumamente, refere-se a uma sociedade – Efrafa – situada temporalmente na Idade do Ferro, que vive constantemente oprimida pelo poder teológico. A luta da população contra o status quo marca toda a narrativa e serve de inspiração para o grupo britânico.
Se Owshl é um álbum claramente virado para o d-beat, Elil e, principalmente, Inlé, reflectem um lado mais post-rock e sludge. E é do último capítulo da trilogia que esta review trata.É um álbum extremamente denso, com uma forte carga emocional e não é de fácil audição. Se não gostam de álbuns com músicas longas… O melhor é esquecer. Inlé exige do ouvinte a máxima atenção durante os quase 80 minutos de duração do registo e, como tal, é um álbum que simplesmente não se adapta como música ambiente ou música de fundo.
O ambiente sombrio criado logo pela faixa introdutória é sintomático. Simulacruminicia o ritual, fecha as cortinas, iça a bandeira e ultima os preparativos para a derradeira libertação. O build-up criado é verdadeiramente intenso e não oferece tréguas.Os setenta minutos restantes revelam uns Fall of Efrafa peritos na composição, mesclando os violentos riffs à Neurosis – a memória remete para o álbum Times of Grace, principalmente na faixa Republic of Heaven – com as passagens melódicas de uns míticos Godspeed You! Black Emperor, criando um tecido sonoro rico e de uma dimensão difícil de assumir logo à primeira audição.
De destacar a faixa final, The Warren of Snares, que não só termina o álbum, como põe termo à trilogia. É uma das mais belas faixas compostas no espectro sludge/post-metal/post-rock dos últimos anos. Quiçá… De sempre. Dezassete minutos de pura evasão espacial, onde se sente o cheiro a liberdade a cada riff melódico e a cada powerchord feito a compasso lento.
Fall of Efrafa deixará saudades. Sim, eles colocaram término à carreira a 5 de Dezembro de 2009, data do seu concerto de despedida. A sua missão tinha acabado de ser cumprida… Lançaram a sua trilogia, não havendo por isso razão para uma continuidade.
Quantas bandas se podem gabar de tamanha sinceridade artística? Um conceito, um nome, três álbuns e uma mão cheia de músicas notáveis. Assim se conta a história de Fall of Efrafa.