Sobre Yanqui U.X.O. há apenas duas coisas a saber: é Godspeed You! Black Emperor e é gravado por Steve Albini. Uma combinação que não podia ser senão imensamente desejada – um dos melhores engenheiros de som a trabalhar com uma das mais misteriosas e complexas bandas das últimas décadas, um colectivo de nove instrumentos, três guitarras, duas baterias, dois baixos, um violino e um violoncelo. Se o objectivo sempre foi fazer do colectivo de Montreal soar à orquestra que, graças a todo o seu poderia amplificado, sempre foi em palco, não se pode dizer menos do que “missão cumprida”.

Esta é uma combinação que, de resto, consegue concluir e frustrar décadas de estudo e de vontade do rock mais erudito, que nos anos 70 escalou para o progressivo, ou art-rock, de bandas como Genesis, Gentle Giant, Mahavishnu Orchestra, sempre com um propósito único de aproximar os universos da música dita clássico e do rock, complexificando as estruturas, afastando as composições do rock e aproximando-as mais de intentos cheios de ambição conceptualizada. Tudo isto se encontra em Yanqui U.X.O., com o acrescento sincero de que os God’s Pee não são uma banda de génios instrumentistas, mas antes um colectivo que sabe que a melhor forma de todos ganharem é fazer as coisas de forma a que, no mínimo, ninguém saia a perder.

Durante as cinco faixas, três músicas, do derradeiro registo da primeira fase dos canadianos, cada instrumento insurge-se como essencial, com contribuições harmónicas e melódicas igualmente importantes, sem que a peça final seja comprometida num caos inaudível – pelo contrário, há toda uma profundidade que se atinge, que leva o álbum ao extremo de ser ou odiado com todas as forças ou amado perdidamente, principalmente devido ao facto de ser um daqueles registos que exige a nossa total atenção.

Que não restem dúvidas: Yanqui U.X.O. é, muito provavelmente, o único disco que conseguiu fazer da relação entre a música erudita e o rock algo consensual.