Depois do cancelamento do concerto no Porto (por falta de procura de bilhetes, a que não será alheio o preço pouco convidativo), deu-se ontem, com sala (praticamente) lotada, a estreia dos norte-americanos Chromatics em Portugal. Uma estreia que soube a pouco…
Após um percurso inicial bastante obscuro, marcado por dois discos e por uma sonoridade próxima do noise-rock, a formação e o estilo da banda sofreram uma transmutação completa. Tal como outras bandas, como os Glass Candy ou os Mirage, este projecto de Portland teve a sua afirmação através da excelente compilação After Dark de 2007, da editora Italians do it Better, responsável, tal como o seu nome indicia, pelo revisionismo próprio do ítalo-disco. Embora as fronteiras do género sejam francamente ultrapassadas por grande parte dos colectivos da editora, essa situação é particularmente notória nos Chromatics. Não só nos temas da compilação, mas também no trabalho em nome próprio Night Drive (uma banda-sonora para um filme imaginário e um dos grandes discos de 2007), era notório um fortíssimo lado negro e melancólico, mais próximo das cenas mais sombrias do pós-punk ou da electrónica dos Kraftwerk do que das fantasias mais coloridas de Giorgio Moroder.
Ao vivo, esse negrume é ampliado, não só pela recriação musical, mas também, se excluirmos a maior euforia de Johnny Jewel (também dos Glass Candy e líder implícito dos Chromatics), pela postura pouco efusiva dos restantes músicos do quarteto, constituído ainda por Adam Miller, Net Walker e, claro, Ruth Radelet, com o seu inconfundível timbre frágil (muito mais do que sensual) e que surgiu em palco de forma algo apática. Iniciando com o brutal tema título de Night Drive, cedo se percebeu que, quem eventualmente esperasse um concerto festivo, sairia defraudado e que a componente electrónica, nomeadamente o baixo sintetizado, iriam ter uma forte preponderância, em detrimento dos teclados, das guitarras e principalmente da percussão, que, mais do que discreta (seria esse o objectivo), foi completamente absorvida. Depois de Healer, o single Hands in the Dark e dois temas novos (integrando provavelmente a reedição de Night Drive), com maior pendor nas guitarras, foi com I Want Your Love que se conseguiu uma reacção mais enérgica do público. O tema teve direito a uma versão ampliada, com o impacto da voz de Radelet e as experiências electrónicas a revelarem-se particularmente bem sucedidas, tal como aconteceria no tema seguinte, In the City. Depois de cerca de 30 minutos interessantes e de dois óptimos momentos, aguardava-se que a banda disparasse para um grande concerto, faltando ainda temas como Mask, Nite ou o magnificamente soturno Tomorrow is so Far Away. Mas não, após In the City, a banda surpreendentemente abandonou o palco…
Regressaria apenas para um breve encore, com um dos seus temas incontornáveis, a versão genuinamente Chromatics para o clássico de Kate Bush, Running up that hill, dando por terminado um espectáculo anormalmente curto, mesmo tendo em linha de conta o reduzido repertório da banda nesta sua segunda vida. Não foi mau, mas depois das relativas desilusões de Fanfarlo, Interpol ou Efterklang (por motivos bem distintos), acabou por ser mais um concerto aquém do esperado.
* em reportagem conjunta Ponto Alternativo com Rádio Universidade de Coimbra (RUC)