Mas que certeira terceira edição do Christmas Fest! Eventos destes reforçam o bom trabalho e perseverança das mentes jovens e criativas de Portugal. Tudo graças a uma organização que alia um espaço invulgar como uma estalagem, um cardápio 100% nacional e um desenrolar de cena numa localidade improvável que tem vindo a afirmar-se.
Ao final da tarde, depois do sol se ter esgueirado pelas serras, os Nyobe e Hugo Pé Descalço mostraram a sua fibra oliveirense. É sabido que o post rock é aquele género pantanoso em que facilmente se escorrega por falta de inovação. Certamente que os Nyobe ainda não estão a elevar a fasquia ou quebrando novas barreiras, mas é de louvar a vontade e dedicação destes jovens. Hugo Pé Descalço presenteou o público com boa disposição, letras erótico-badalhocas e caralhadas. Perante um ou outro deslize técnico mostrou uma informalidade e à vontade sempre cheio de fôlego. Mostrou também o seu entusiasmo pela realização de um evento desta índole na sua terra e lá continuou mostrando o seu blues de chapéu na cabeça, calça com dobra e claro, pé descalço.
Virando a página, iniciava-se o capítulo do stoner, psicadelismo e rock&roll com os It Was the Elf. Infelizmente, acho que não foi um começo muito feliz. A banda pareceu estar dividida entre a força bruta do metal e a fluidez e groove do stoner. Não querendo tirar o mérito às misturas em geral, esta não foi bem sucedida.
O parágrafo foi introduzido pela pausa de jantar. Para sobremesa aguardava-se um eficiente despoletar de alvoroço fazendo justiça ao capítulo iniciado anteriormente. Sem grande dificuldade, a Estalagem S. Miguel foi abanada com um concertão daqueles que já não experienciava há bom tempo. Os Black Wizards trouxeram uma autêntica viragem de maré. Que dupla feminina tão coesa; que baterista incansável; que baixista fenomenal capaz de honrar um Geezer Butler! O outro guitarrista que me desculpe, mas o som não abonou a favor dele. Mantenham os olhos postos neste projecto, e aconselho a escutarem o álbum recentemente lançado “Lake of Fire”.
O concerto dos Astrodome ficou marcado por alguns problemas técnicos alheios aos membros da banda. No entanto, ficou a ideia de amainamento face ao furação dos Black Wizards. Não só as composições eram mais etérea como parecia não haver energia a ser emanada do palco. Em contrapartida, os Stone Dead voltaram a fazer irradiar energia do palco.
O que viria de seguida seria a personificação de algo que se alimenta da auto regeneração de energia. Não é qualquer banda que toca duas vezes no mesmo dia e surge pela segunda vez como uma tocha reacendida com a mesma pujança. Que coisa será esta? E o que serão três maníacos em cima de um palco? Plus Ultra, claro. Devastadores, satíricos, animalescos. O Christmas Fest encerrou-se, portanto, com o extravasar e o despojar de tudo o que havia… Venha o próximo!