Muitos discos, porventura até a grande maioria, vão procedendo a uma constante conquista e absorção ao longo de várias audições, precisando do seu amadurecimento. “Pain Is Beauty” consegue o contrário. Uma determinante paixão logo aos primeiros instantes, mas que posteriormente tem o condor de mostrar que um antigo amor é muito difícil de esquecer. “Apokalypsis”, a segunda edição de Chelsea Wolfe, é esse caso amoroso que nos leva a confrontar freneticamente o presente, tentando-se perceber quais as perdas e ganhos. As perdas são por demais evidentes: a ausência mais pronunciada das guitarras de temas como “Noorus” ou “Demons”, e também aquela subtil austeridade vocal que transportava. Quanto aos ganhos, a maior abrangência e expansão para outros trilhos sonoros, serão a causa principal de “Pain Is Beauty”.
Longe de se verificar um conceito estrito no quarto álbum da californiana, cada tema conta musicalmente uma nova história e, talvez por não haver uma unidade aparente, sente-se que esta será a proposta mais extensiva que alguma vez compôs. As diferenças ao longo da dúzia de faixas são tantas que a peregrinação pelos vários credos de Chelsea Wolfe torna-se frequente. O jogo entre as múltiplas cadências e ritmos requer um percurso por diversos caminhos de sensações, desde as mais frenéticas, até às mais decadentes, como nos sugere a passagem de “We Hit a Wall” para “House of Metal”.
A produção é outro dos elementos que terá contribuído para a mudança operada. Inevitavelmente, com uma captação sonora mais limpa, toda a passada negritude se converteu apenas em sombrio. De facto, ao longo de quatro anos com o mesmo número de lançamentos, parece que Chelsea Wolfe prossegue a sua própria caminhada, passando da escuridão e beleza cavernosa de “The Grime and The Glow”, para “Apokalypsis” e sua componente mais airosa mas também negra, sendo que, neste momento, tudo se posiciona com a lucidez e a clareza que o seu som pedia nesta fase, tornando, sobretudo, a parte instrumental muito mais premente e incisiva.
Contudo, não será possível esconder que, se antes não encontrávamos paralelo, nem semelhanças com nenhum outro, desta feita é possível apontar algumas parecenças, dando a sensação que já não será a Chelsea Wolfe única e incomparável de “Apokalypsis” ou mesmo de “Unknown Rooms: A Collection of Acoustic Songs”.
Mas não é apenas Chelsea Wolfe que parece ter encontrado o seu caminho. Agora será muito mais fácil compreender e amparar melhor as anteriores propostas, criando a ideia que será sempre uma experiência incompleta tentar entender o presente sem um deslumbre total do passado. Assim, as partes ásperas, obscuras, mas também acústicas são melhor entendidas com “Pain Is Beauty” levando-nos a questionar: será mesmo dolorosa esta beleza?