Afinal de contas, que há para escrevinhar sobre Celeste? Sobre essa cambaleante entourage de rapazes mortinhos pelo chegar da sua hora na República da Música, pronta a resgatá-los – a eles e a nós – de um passar pelas brasas decretado pelo fastio Comity e o tédio Revok.
Há, para efeitos de reportagem, o facto de esses quatro pálidos moços não gostarem de dar uma de humanos, quando em palco. Submergem as carantonhas numa penumbra feita de breu e neblina, como se no backline sempre carregassem e escondessem aquela cerração que, do nada, engole a vila de Sintra. Ali, na garagem de Alvalade, fomos peasants medievais amarrados ao escuro. A enfardar no lombo as bofetadas ensurdecedoras de uma banda que é tão black metal… Que nem black metal ouve. Entretidos, nós, a perseguir feixes de luz vermelha – farolins de um eclipse de tripas ao avesso; paracetamol visual para as dores de nas costelas aguentar a sova post-tudo-e-mais-alguma-coisa.
Meio tolinhos, meio tontinhos, de ouvidos a guinchar e a pedir clemência, regressámos ao silêncio mundano quarenta minutos depois. Queríamos mais – tão bons portadores da síndrome de Estocolmo que somos – de uma banda que pegou na choraminguice dos Mihai Edrisch para lhe vestir o uniforme da frieza e torná-la uma besta impassível. Esse enregelado toque mantém-se e na era “Animale(s)” resta-nos a pele de galinha.
Nas aberturas, um salut aos Mantar. Sem merdas, sem golpes vazios de entretém, deram ao rock o que é do rock por direito: toma lá groove, toma lá riff do bom. Sabemos, depois de in loco espreitarmos, o porquê de em duo tão bem se aguentarem – Hanno têm em si qualquer coisa de polvo. Há nele mais braços do que aparenta, tal a destreza em virar e revirar os suplementos que dão à sua guitarra fé quanto baste para acreditar que é baixo. E ela acredita. Bem nos disse o alemão que era um nerd no assunto. Em preâmbulo, os Don’t Disturb My Circles lá trocaram ao hardcore a sintaxe. Eles do sujeito tiram o verbo, da frase apagam a vírgula. E, de repente, do nada, ficamos tête-à-tête com um riff mal-disposto, todo sludge, prontinho para a mocada. É o seu maior perigo: dali nunca saberemos o que adiante surgirá.