A carreira discográfica de Cat Power aparenta estar intimamente ligada à sua própria progressão etária. Observando o seu percurso e até mais recentemente, com The Greatest ou Jukebox, aquilo que se revela é um certo amadurecimento de Chan Marshall. Se, nos primórdios, os temas encontrados nos seus discos se demarcam por uma voz praticamente sofrida, dolorosa, mas também carente, desta feita embarca-se por uma nova vertente vocal, mas, principalmente, sonora.
Assim, se no passado tudo caminhava para um percurso e apostas mais simples, com uma dose instrumental quase estritamente acústica, em Sun sente-se a evolução para novos conceitos musicais, que, verdade seja dita, parecem muitas vezes não jogar com Cat Power.
Cat Power assumia-se como um tipo de artista que conseguia transmitir, exactamente através da sua música, qual o seu estado de espirito e quais as suas perturbações. Contudo, em Sun parece faltar um pouco desse conteúdo. Menos emocional, sente-se que aquela solidão transmitida no passado, a revolta, a aspereza, estão perdidas e que o toque de quase inocência está afastado. Sente-se a perda de um registo de maior proximidade para algo mais alargado, o sucumbir para um toque mais propagável e menos intimo e, verdade seja dita, no final, sente-se o quanto se gostava de todos aqueles fantasmas que a assolavam. Curiosamente, este sentimento surge no momento em que este é o seu longa-duração mais preenchido em termos de contexto sonoro.
Ao cabo do nono álbum de estúdio, há mais do que guitarra e piano com as camadas certas e apropriadas, existe uma tentativa de incorporar outros momentos, nomeadamente através da utilização suave e pouco volumosa dos sintetizadores. Não há que esconder, Sun tem ritmo, sendo em muitas alturas dançável, algo que nunca um disco de Cat Power tinha ambicionado ser.
Ao fim de onze temas, aquilo que se pode interrogar é se este formato funciona. A resposta poderá até ser positiva. Contudo, é impossível escapar à tentação de referir que quando tudo era mais simples, quando a notávamos mais sozinha instrumentalmente e quando percebíamos a faceta difusa da sua vida, sentia-se que as suas músicas tinham um charme e um encanto diferente.