Entre ver o Axl Rose sentado a fazer numa espécie de karaoke, tendo ainda de utilizar os comboios da CP, e uma noite comum de Bairro Alto numa noite de chuva, optamos pela segunda. “Esta coisa hoje”, explicava a Ana Matos a cada introdução de música nos primórdios da actuação, vai ser diferente, é “especial”. Foi esse o mote da actuação. O início, deu-se com as músicas que começam os concertos de apresentação de “Sereia Louca”. Antes das 22h dois montinhos de gentes já esperavam junto ao palco no Aquário e outros ruminavam no pátio vendo-se refletidos nas cadeiras de latão alagadas; perto da hora inicial, no usual impasse antes do começo, vão chegando faseadas matilhas afectadas encasacadas em peles e com ar perdido.

“Vai ser virado parado o lado esquerdo, mas isto não quer dizer que lá para a frente não solte a franga”. E não é assim, normalmente, em todos os concertos? Um crescendo com altos e baixos pelo meio? Foi mesmo isso que Capicua fez, escudada por um pano de fundo avermelhado com cones de gelado, gatos, barcos e conchas, o atento D.One, M7 e Virtus, que no teclado foi pincelando cada música com pormenores.

A “Mulher do Cacilheiro” não tem lugar na ZDB. Nem a própria nem uma sua filha, irmã, prima, cunhada, enteada, afilhada, apadrinhada, amigada lá marcou presença. Notar-se-ia. Aquele sábado foi o mais querido, o mais bebecas, que até então vi num concerto na ZDB – (consigo disfarçar o aborrecimento disso acontecer precisamente num concerto de rap?) Perante as lembranças ténues da senhora que vai lá a casa duas vezes à semana, a próxima é para “todas as mulheres”: o hino feminista de Capicua – a primeira parte, como habitualmente, de “Alfazema” acapela. “Luas” é das músicas mais belas escritas por Ana Matos (aposto que está no seu top 3), mas foi “Casa no Campo” que colheu os louros. Antes, Tamin entrara em palco para dar voz à nova versão de “Soldadinho” produzida por STK.

O final foi familiar, com “Pedras da Calçada”, “Medo do Medo” e “Vayorken”. Mas, antes disso, dado que a noite era dedicada a especialidades, Capicua fez a vontade a muitos dos pedidos cibernautas dos seus fãs, tocando “Amigos Imaginários”, a outra, também alvo de inúmeras súplicas – “Sagitário” -, “já não faz sentido tocar”, disse a rapper. Houve também espaço para pedidos no momento, calhou por azar o cromo repetido de “Jugular” acapela. Algumas fãs, em êxtase, gritam o nome de músicas que já foram tocadas.

Mesmo no fim houve um momento muito emocional e íntimo, para as intervenientes e para a ZDB, em que foi lembrada uma colaboradora da casa recentemente falecida, com Ana Matos recordando-a com versos.