Pelas manhãs decrépitas de silêncio, corre-me para os braços esta cidade amolgada pelo tédio, caminho defunto pelas sombras de nevoeiro e o nevoeiro vai engolindo, pela bocarra que lhe é grotesca, edifícios, automóveis, armários de alumínio depositados para que a solidão os leve em boa hora, saguões fechados à presença de miseráveis e esquálidos anónimos, becos enrugados pelo bolor e pelo caruncho que o tempo certifica em despacho directo, pátios anoréticos onde apenas cabe metade de mim se em jejum de alma, vestíbulos de horror, escritórios onde seria doutor, departamentos sem despudor, dinheiro redescoberto como seringas transmíssiveis pelo vício; engolidos, um a um, pelo nevoeiro imigrante que traz nos dentes a abulia definitiva, tenho medo de ter medo de tudo isto, e desprende-se um bando de gaivotas numa flutuação vulgar pelo céu, como vulgar sou eu, banalíssimo, vírgula mamífera de existência acorrentada pelo peito à morte.

Nós, os bastardos.