Segundo dia. Entre os tirocínios sobre o derby, havia um prognóstico tão simples de se fazer: o domingo ganharia em melhores concertos sobre sábado. E, olhem, não nos engánamos.
Infra
Começando logo por Infra. A banda que lançou já este ano, e logo pela nomeada Nuclear War Now!, o EP de estreia “Initiation On The Ordeals Of Lower Vibration” conta com caras conhecidas de projectos do black metal português. Desta vez com uma mistura tesuda de black e death, houve momentos para tudo devido às dinâmicas bem diferentes que as músicas vão tendo sobretudo ligadas às acelerações ou desacelerações que têm o riff como principal linha condutora.
Hymn
Tocámos de raspão nos HYMN, instigados pelo doom astrológico de quem joga ainda nas lower divisions, só para ter a certeza de que aquelas duas carantonhas eram de músculo e osso. Eram. E os Acid Deathrip… Primeiro de tudo: um grande vai-te foder para o patrão do guitarrista dos Blind To Faith, que se lembrou de lhe encomendar horas extra e assim impossibilou que os belgas cá viessem tresmalhar Lisboa a ódio e cerveja. Os Deathtrip, que têm dois quintos de BTF, não são tão dados ao rancor e preferem destilar sentimentos na Super Bock e no heavy blues porcamente Down. Cheers e obrigado pela cover da “Supagorganizer”.
Acid Deathtrip
Naquela tarde ficámos com a certeza de outra coisa: há por Lisboa muita gente que não aguentaria cinco minutos de Eyehategod ou Buzzov*en ao vivo nos anos 90. Se a vossa alma ganha esgares de consternação por meia dúzia de escarretas aladas, e considera o guitarrista Adrien L. um tipo demasiado teatral, então ainda bem que o G.G. Allin está com sete palmos de terra em cima e não mais vos pode azucrinar. Os Cowards foram aquilo que propalam em disco: nojentos. Porcos. Azedos. Escolham. Hardcore de tripas às avessas, emético e ghettificado pela más companhias. Trinta minutos de cheiro a ressaca, boca seca e fotossensibilidade por feedbacks e aversão ao próximo.
Cowards
Morte Incandescente
Não sendo exactamente novidade, a presença de Morte Incandescente num cartaz destas características acaba sempre por ser matéria de curiosidade. O facto de o set ter percorrido vários momentos de uma carreira que já está no seu 13º ano deu para ver hinos que se aproximam muito do “black & roll”, passagens de guitarra limpa e uma dinâmica muito própria que sempre acompanhou um dos mais interessantes projectos de BM em Portugal.
Morte Incandescente
Tudo isto acaba por ser algo vazio depois de a banda ter decidido recuar ao split com Krieg que já fez dez anos. O tema escolhido foi “Desabafo”, um momento em que a carga emotiva aumentou de forma drástica naquela que é um dos melhores momentos alguma vez produzidos por uma banda portuguesa de black metal.
Tombstones
Os Tombstones cheiram a erva e, se pudessem recuar uns aninhos, queriam ter sido escolhidos para o casting do “Easy Rider”. São nórdicos apaixonados pelo deserto e lidam com o paradoxo da melhor forma que podem: riffs lá em cima, uns gamados aos Sleep, outros tirados ao espólio de Sabbath – que já parece um museu onde toda a gente pode meter as manápulas. Beijos de guitarra psicadélicos, embrulhados em papel de arroz e amplificadores-príncipe. A cover dos Melvins sabe sempre bem, já agora.
Process Of Guilt
Process! Será a banda mais reportada na história do PA’? Possivelmente. A renúncia, a erosão, a fome – vimo-las todas em progressão como uma trilogia que o fatum trouxe por acidente. Observá-los hoje nos movimentos de “Liar” é discernir a melhor e mais profissional banda portuguesa que ao doom se devotou. Sublinhamos profissional, até pelo que não deveria ter acontecido perto do fim. Quem interrompe uma malha como “Fæmin”, desligando os amplificadores, quando essa ate já estava na recta final, deveria levar um apedrejamento…
Mantar
De volta a Portugal, os Mantar vieram apresentar maioritariamente o mesmo trabalho que já se tinha ouvido em Maio de 2014 – “Death By Burning”. A evolução é notória, e pese embora os problemas de som ao na voz, o nível de agressão foi q.b. para não defraudar expectativas. O groove deste duo turco-germânico é tão orelhudo que não custa brincar à futurologia para lançar a seguinte bold prediction: vão ser grandes por esses festivais de verão europeus. O fecho com a “White Nights” berrada a cuspe pelos Bölzer – andam juntos em tour – foi quase orgástico.
Bölzer
Não deixa de ser curioso que um duo com uma demo e dois EPs tenha conquistado nos últimos três anos tamanha dose de respeito. O som dos suíços é único e isso explica uma parte. Mas são as enormes aparições em palco como a do último dia do Burning Light que lhes cimentam a reputação. Simplesmente irrepreensível.
The Black Heart Rebellion
Se os Bölzer destruíram as fundações do RCA, houve um outro tipo de destruição com os The Black Heart Rebellion … O soporífico que foi uma actuação algures entre a tentativa de serSwans e Godspeed You! Black Emperor acabou com a vontade de permanecer na sala. Os maneirismos exagerados, e a tentativa de colagem identitária a tanta coisa, acaba por dissolver a unicidade da banda. Foi do enfado à pura irritação conforme os vários instrumentos iam sendo usados, quase sempre soando a irrelevância.
Schonwald
Os Schonwald foram som para relaxar, mas muito tarde no cartaz. Foi pena não terem tocado antes, principalmente devido à infelicidade que os antecedeu.