Por vezes constitui um motivo de admiração, perceber como certas bandas demoram tanto tempo a visitar o nosso país. Os Built to Spill englobam-se nesse quadrante, chegando a ser penoso perceber que os influenciados nos chegam muitas vezes primeiro do que os influenciadores e, um tema como Carry é suficiente para se sentir a sua presença em inúmeros projectos actuais.

Sem nada de recente para apresentar, a actuação dos americanos acabou por despoletar uma necessidade: perceber até que ponto a saída do casulo de Doug Martsch tem o condão de terminar com o bloqueio criativo do compositor. Poderíamos até pensar que esta seria uma oportunidade para voltar a pegar no último disco de originais, There Is no Enemy, e encetar uma nova reposição desse álbum. Mas não foi dessa forma. De facto, não só este longa-duração pouco marcou o seu lugar, como também a estreia discográfica com Ultimate Alternative Wavers, foi relegada para um canto muito redutor do baú temporal dos Built to Spill e do seu acto em Lisboa.

Depois de alinhados os cinco actuais constituintes da banda que, tal como já foi referido por Martsch, podem estar sempre a mudar, a contenda iniciou-se com Goin’ Against Your Mind. Temeu-se o pior, baixo completamente desenquadrado e sobreposto em ruído aos demais instrumentos e Jim Roth sem tempo para substituir a corda antes de se começar a entoar os primeiros instantes desse tema. No entanto, o momento temerário pouco perdurou eConventional Wisdom mostrou automaticamente aquilo que move a banda de Idaho: a proeminência do instrumental e, preferencialmente, o papel central da guitarra em toda a estrutura, admitindo que, e apesar do caracterizador e único timbre nasalado de Doug, são as cordas o elemento essencial.

Com Strange o quinteto desempenhou a curiosa relação de respeito que se nota em todas as suas composições, ou seja, a consideração que existiu entre todos os instrumentos e a voz. Justificaram para si cada composição, não se assistindo ao atropelo do solo pela voz, tal como não se presenciou o devaneio instrumental quando é o microfone que mostra a sua supremacia. As guitarras pareceram compreender quando surge o ponto certo para brilhar.

Apesar de na maior parte das vezes a predominância do som forte das três guitarras ser o ponto principal, os Built To Spill foram maestros da melodia, mostrando que a constante dependência doriff e os momentos em que se tornaram reféns dos solos, podem originar versões extremamente melódicas como em Else do discoKeep It Like a Secret.

Se em vários situações isso se constatou, foi com Sidewalk ouWherever You Go, que surgiu a percepção do quanto é difícil entender como se mantiveram sempre retidos à margem de qualquer grande sucesso. Mas isso não pareceu tirar o fulgor a Doug Martsch que, com a boca perpetuamente colada ao microfone, e com a guitarra a presenciar sempre o mesmo movimento foi capaz de possibilitar o desfrutar de todas as linhas limpas, viciantes e únicas.

Depois de intercalarem os seus temas com as habituais versões deHere dos Pavement, How Soon Is Now dos Smiths e (Don’t fear ) The Reaper dos Blue Öyster Cult, conseguiram transmitir a ideia que não precisamos de mais vinte anos para que nos visitem.

Na primeira parte estiveram os Disco Doom. Curiosamente, sem apresentaram nenhuma componente de qualquer estilo musical presente no seu nome, acabaram por fazer lembrar a mistura entre o mais forte dos Pixies e o mais suave dos Sonic Youth, exceptuando o final apoteótico e a fartura de riffalhada, onde se temeu pela estrutura sonora do Lux.